Afinal de Contasviolência – Afinal de Contas http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br por Marcelo Soares Mon, 31 Oct 2016 12:55:38 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Quem são os maníacos atiradores? http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/07/20/quem-sao-os-maniacos-atiradores/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/07/20/quem-sao-os-maniacos-atiradores/#comments Fri, 20 Jul 2012 15:37:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=632 Há algumas horas, nos EUA, um cara de 24 anos disparou num cinema de Denver, no Colorado, durante a exibição do filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”.

Aparentemente ele se vestiu como o vilão Bane, interpretado por Tom Hardy (aqui ao lado). Usava uma máscara de gás e um colete à prova de balas sobre a roupa.

Horas depois do tiroteio, o FBI confirmou que o assassino, James Holmes, agiu sozinho e não tinha vínculos com células terroristas. Era estudante de medicina, assim como o Mateus da Costa Meira, atirador do cinema do shopping Morumbi, em 1999. (Essa coincidência, diga-se, não significa que estudantes de medicina, como grupo, sejam necessariamente perigosos.)

Quatro questões são importantes de tratar aqui.

1) O que leva o sujeito a agir assim? 

Num estudo de 2010 (baixe aqui) sobre estudantes que abriram fogo contra colegas, psicólogos falavam em um senso de “merecimento ressentido”. Algo como caubói que resolve se vingar da cidade inteira por ter sido magoado, retaliando desproporcionalmente e buscando “regeneração pela violência”. Não sei se acho mais triste do que ridículo.

2) Filmes violentos causam violência na vida real?

Não. Senão, com a quantidade de filmes violentos lançados a cada ano, não teria sobrado mais ninguém vivo no planeta.

Isso, porém, não impede algum deserdado da noção de se inspirar na violência dos filmes para realizar seus próprios sonhos de regeneração pela violência.

3) Esse tipo de tiroteio está ficando comum?

Não necessariamente, embora todo tiroteio seja lamentável.

Em abril, quando houve um tiroteio numa escola dos EUA, a CNN ouviu o criminologista James Alan Fox, que estuda assassinatos em massa há três décadas.

Segundo ele, embora esses casos sejam muito visíveis e assustadores, são incomuns. Há riscos mais graves. BEM mais graves.

“Neste país, há uma média de 10 a 20 assassinatos nas universidades em qualquer ano. Compare isso com mais de mil suicídios e cerca de 1.500 mortes por abuso da bebida e overdose de drogas”, disse ele.

4) Temos dados?

Fiz um pequeno levantamento sobre 27 tiroteios semelhantes ocorridos nos EUA. Baixe aqui a planilha. Não é uma lista completa – é a que eu obtive a partir das agências de notícias.

Em 25 deles, o atirador agiu sozinho.

Em 18 deles, o atirador acabou morto (em 14 casos, pela própria mão). Poucos sobrevivem para serem presos, como foi o caso desse cidadão.

É mais frequente que o atirador tenha 42 e 44 anos de idade. Mas a média é de 31 anos.

Tiroteios contra vítimas  ao acaso são quase tão comuns quanto tiroteios contra estudantes.

Você pode pesquisar mais sobre o perfil dos criminosos na Murderpedia. Vi alguns casos em que o tiroteio aconteceu logo depois do aniversário, mas não coloquei isso na planilha.

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O crime em São Paulo http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/o-crime-em-sao-paulo/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/o-crime-em-sao-paulo/#respond Thu, 26 Apr 2012 17:05:07 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=217 Seguranca ao lado de resquicios de sangue no interior do predio da Defensoria Publica do Estado de Sao Paulo, nesta quarta-feira, 25 de Abril de 2012. Um homem armado com uma faca e um martelo invadiu o predio no centro da cidade e, segundo a Policia, feriu seis pessoas, entre elas dois segurancas. (Foto: Gabo Morales/Folhapress)Cotidiano publica hoje reportagem do Afonso Benites, Rogério Pagnan e Reynaldo Turollo Jr. sobre o aumento da violência nas estatísticas de São Paulo.

A polícia diz que o grande aumento dos homicídios em março se deve ao fato de março do ano passado ter tido um índice excepcionalmente baixo (sem que se saiba exatamente por quê).

Diz o delegado que o mês do ano passado foi um “ponto fora da curva”. É retórica, apenas. Ao ler a aspa do delegado, entenda-se: “março de 2011 foi bem mais tranquilo do que se esperava”.

Um ponto fora da curva tem que ser bem mais raro do que a diferença detectada. Existe como calcular se um caso específico é um ponto fora da curva ou não (saiba mais), mas para isso seria preciso ter uma série histórica muito maior, o que não é o caso.

LEIA MAIS
Violência cresce em SP no 1º trimestre” (para assinantes)
Bairro carente concentra roubo de carros” (para assinantes)
Estatísticas de criminalidade em São Paulo (site da polícia)
Planilha da Folha (Google Docs, para baixar)

No jornal impresso, podemos destacar os dados mais importantes e podemos fazer uma arte – como a da página C3 – mostrando como um ou dois crimes se distribuem no mapa. Temos o limite do espaço.

Só que o grande barato da internet é que ela permite ao leitor chegar às informações no detalhe que desejar, caso a Redação assim se organize. A Folha tem procurado fazer isso, no caso dos crimes. Os repórteres, como o Afonso Benites, levantam os dados; depois, a equipe da Folha.com e da Arte os organiza na Web para facilitar a vida do leitor.

Todo mês, é o craque André Monteiro quem atualiza o Radar da Violência, que organiza no mapa de São Paulo os dados dos crimes da cidade. Os de março saíram ontem. A interface, projetada pelo mestre do Flash Ariel Tonglet, permite que o leitor filtre os dados por crime, delegacia e mês, para conhecer melhor os padrões do crime onde mora. Clique e conheça:

Coloquei no Google Docs a planilha completa para você poder baixar e fazer suas próprias análises. Já resumi por alguns crimes.

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Trote imbecil – será que foram só esses os casos? http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/17/trotes/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/17/trotes/#comments Tue, 17 Apr 2012 21:25:46 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=40 Nem todo trote a calouros universitários é imbecil – mas, quando eles resolvem ser, sai de baixo. Um trote imbecil é aplicado à força (ou topado por coação), com violência ou baixaria.

Derramar mostarda amigavelmente, como houve com a simpática moça da foto acima, é um trote bobo, é um desperdício de alimento, mas não chega a ser imbecil.

Empurrar cachaça goela abaixo de moleques é imbecil.

Jogar moleque na piscina é imbecil e perigoso – não foi um nem dois calouros que morreram nessa “brincadeira”.

Fazer assinar contrato de exclusividade sexual, como ocorreu na Universidade Federal do Paraná, ainda que seja brincadeira, é imbecilidade e baixaria, embora não envolva violência.

Embora a prática venha sendo coibida pelas universidades, de vez em quando ainda aparece algum caso. Os exemplos reunidos no mapa abaixo não vêm só da Folha, mas de várias publicações, inclusive regionais. Os pontos levam ao endereço das universidades onde estudavam os alunos. Se você clicar, pode ver uma descrição de cada caso, tirada das notícias sobre o assunto. A legenda:

Desabamento – baixou o nível
Caminha – houve hospitalização
Atenção – foi grave, mas ninguém foi hospitalizado

Se você souber de algum outro caso de trote imbecil que eu não tenha visto neste ano, mande o link aqui nos comentários que eu incluo no mapa. Conte também o que você pensa a respeito dos trotes imbecis.

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Nomes também são dados http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/15/nome/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/15/nome/#respond Sun, 15 Apr 2012 21:09:49 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=94 Cotidiano publica hoje uma reportagem do Ricardo Mioto (link para assinantes) sobre as tendências de nomes de batismo para crianças em São Paulo.

Segundo estudo do economista Lucas Scottini a partir dos nomes de mais de 10 milhões de alunos da rede pública de São Paulo, nomes italianos estão se tornando cada vez mais comuns entre as famílias brasileiras. Scottini também detectou que os nomes dados pelos famosos aos filhos influenciam as escolhas dos nomes dos filhos de seus admiradores.

No Brasil, não temos registros agregados de nomes. Foi por isso que o economista da USP usou um indicador aproximado – alguns anos depois de nascer, a criança vai para a escola.

Nos Estados Unidos, há décadas, existem registros dos nomes mais populares registrados. O mecanismo de busca Wolfram Alpha, por exemplo, tem esses dados para os anos de 1880 a 2010. Quando você digita nele um nome, uma das opções de resultado é a frequência com que esse nome é atribuído a crianças.

A frequência com que determinados nomes são atribuídos a crianças pode lançar luz sobre padrões de imigração, entre outros.

Na reportagem de hoje, Scottini lembra das corruptelas de nomes estrangeiros que se tornam populares no Brasil  de tempos em tempos: “Nos anos 1990, tivemos um boom de Daianas e Leidianas (com todas as grafias imagináveis), de Maicon, de Deivid”.

Isso também é comum em outros países. Nomes estrambóticos revelam muito sobre a classe social, como mostra o capítulo 6 do livro “Freakonomics” – “A Roshanda by any other name” na edição original; não tenho a edição brasileira por causa de algo que vou comentar em outro post.

Foi esse estudo que Scottini tentou replicar em seu mestrado, em projeto originalmente intitulado “Discriminação na Escola: o impacto dos nomes”. Possivelmente devido à dificuldade de encontrar bons indicadores para medir com maior grau de certeza a discriminação, ao longo do trabalho o foco mudou para “O que o nome nos ensina? Padrões sociais e raciais de nomes e sobrenomes e performance escolar em São Paulo“. (Grato à leitora Acácia Maduro Hagen pelo link.)

Esse é um tipo de trabalho muito interessante e potencialmente revelador.

Existem trabalhos bem menos hábeis feitos a partir dos dados de frequência de nomes, que extraem conclusões erradas. Foi o caso, por exemplo, deste estudo apresentado em janeiro de 2009 na universidade de Shippensburg, nos EUA:

First Names and Crime: Does Unpopularity Spell Trouble?

Os autores compararam a frequência dos nomes dados a crianças à frequência dos nomes de prisioneiros e concluíram: Wecsleys têm mais chance do que Joões de serem presos. Portanto, a conclusão popular foi que nomes estrambóticos poderiam ser um fator de influência numa futura carreira criminosa. Um prato cheio para ímãs de cliques em tudo o que era portal.

Só que não é bem assim, como analisou Steve Levitt no blog do Freakonomics.

Levitt observou que o que os autores fizeram foi pegar a quantidade de Joões presos e ver qual sua proporção em relação aos Joões vivos. Depois, pegaram a quantidade de Wecsleys presos para ver qual a sua proporção em relação aos Wecsleys vivos.

O problema disso: são quantidades diferentes, portanto estamos comparando laranjas com acerolas. Um Wecsley preso pesa proporcionalmente muito mais do que um João preso.

Pior: isso já estava explícito logo no resumo do artigo original.

“Nomes incomuns possivelmente não são a causa do crime, mas podem estar correlacionados a fatores que aumentam a tendência à delinqüência juvenil.”

Correlação não é causa. Educação e renda são fatores correlacionados, mas você pode estudar a vida toda sem ficar rico. Levitt traduz essa declaração para termos mais compreensíveis:

      É mais ou menos como dizer: sabemos que as pessoas que regularmente usam macacão laranja são mais possivelmente criminosas, porque macacão laranja vem a ser o uniforme da prisão estadual. Usar macacão laranja não é a causa da atividade criminosa, mas é altamente correlacionado ao envolvimento com crimes no passado.

Você poderia fazer um estudo semelhante, a partir dos nomes de jogadores da Série A do Brasileirão. Só o Santos tem um Neymar, um Alan Kardec, um Humberlito, um Ibson e um Elano.

A conclusão seria: quem tem nome esquisito tem mais chance de ser craque. Mas não é bem assim, embora meu nome seja comum e eu seja perna-de-pau.

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Mortes mal contadas http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/10/mortes-mal-contadas/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/10/mortes-mal-contadas/#respond Tue, 10 Apr 2012 19:23:00 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=16 (Escrito em 4 de abril)

O Grupo Gay da Bahia divulgou seu levantamento anual sobre assassinatos de homossexuais no Brasil. Eles detectaram 267 mortes neste ano, um recorde em sua série histórica, segundo reportagem de Aguirre Talento.

Aumento de assassinatos é sempre preocupante. Mas é difícil detectar isso com a metodologia usada pelo grupo. Segundo a reportagem, eles contabilizam mortes com base em notícias publicadas em jornais e na internet. Isso torna impossível comparar os assassinatos de 2011 aos de anos anteriores: só são contados os que se tornaram notícia.

O estudo, portanto, pode medir apenas o aumento da visibilidade das mortes de gays – que é um dos objetivos do estudo, aliás -, não exatamente um aumento nas mortes.

Uma pista disso está na afirmação de que a Bahia, sede do grupo, lidera com 28 mortes o ranking de assassinatos. Como eles têm um papel importante de dar visibilidade ao tema, é difícil saber o quanto sua atuação se reflete no fato de o Estado-sede liderar o levantamento. É bastante possível que, pelo simples fato de estarem lá e ajudarem a fazer as denúncias, as mortes de homossexuais na Bahia cheguem mais facilmente ao seu conhecimento do que as ocorridas em outros Estados brasileiros.

Isso não significa necessariamente que em outros lugares, especialmente mais populosos, haja menos assassinatos de gays. Quanto maior uma população, mais fácil acontecer qualquer coisa nela.

Outros motivos para ler o levantamento com um grão de sal:

  • Nos anos 70, quando o grupo começou a série, eles deviam contar com a cobertura dos jornais locais e dos jornais de referência nacional que chegavam à Bahia. Hoje há uma explosão de sites de notícias e blogs, inclusive temáticos. A base não é a mesma.
  • Nem todo assassinato, seja de quem for, vira notícia. Especialmente em cidades grandes, onde infelizmente tanta gente é morta que o que acaba virando notícia são as chacinas ou as mortes muito inusitadas. Também nem sempre a polícia sabe a sexualidade da vítima na hora em que descobre um assassinato e o informa à imprensa.

O grupo criticou o governo federal por não criar um banco de dados específico sobre crimes contra gays, previsto no Plano Nacional de Direitos Humanos de 2002.

Possivelmente um banco assim seria alimentado com dados de registros de ocorrências, que também são falhos e precisam melhorar muito, mas pelo menos são os dados nos quais as autoridades se baseiam para fazer planejamento de segurança pública.

Também seria impossível comparar as observações do levantamento anual do grupo com os dados de um banco assim.

Outro problema é determinar quando um assassinato é motivado pela sexualidade da vítima. O grupo afirma que “99% desses homicídios têm relação com homofobia”. Sempre desconfio desse tipo de estimativa mas, se considerarmos que o relatório apenas contabiliza mortes noticiadas, até faz algum sentido. É um elemento que transforma um assassinato em notícia. Mas será que é sempre assim?

Esse tipo de afirmação permite a algum gaiato brincar com coisa séria e dizer que a esmagadora maioria dos outros assassinatos ocorridos no país, não tendo gays como vítimas, são “heterofóbicos”. Não é o caso, como os militantes rapidamente dirão.

Qualquer cidadão, independentemente de sua intimidade, está exposto a latrocínios, por exemplo. Talvez, inclusive, seja o caso em algumas das mortes noticiadas e incluídas no relatório. Três latrocínios entre as 267 mortes já derrubariam a retumbante estimativa de “99%”.

Assassinato é coisa séria, mas uso público de estatísticas também é.

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