Afinal de Contasmobilidade – Afinal de Contas http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br por Marcelo Soares Mon, 31 Oct 2016 12:55:38 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Você passa mais tempo no trânsito do que com sua família http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/03/voce-passa-mais-tempo-no-transito-do-que-com-sua-familia/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/03/voce-passa-mais-tempo-no-transito-do-que-com-sua-familia/#comments Sun, 03 Jun 2012 20:40:25 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=412

Este post é o quinto da série “Olho no Censo”, que verifica curiosidades disponíveis na riqueza de dados dos Resultados Gerais da Amostra.

Sexta, a cidade chegou ao seu recorde de congestionamento, com 295km na medição da CET e 562 km na medição da Maplink. Eu brincava com os colegas: mais gente precisa tirar o carro de casa para chegarmos logo aos 300. Mas faltou patriotismo dos motoristas para chegarmos ao número redondo e garantir mais um orgulho para São Paulo.

Hoje, Cotidiano traz uma reportagem que faz as contas: o paulistano perde 17 dias por ano no trânsito. Isso é mais que o dobro dos feriados nacionais (8), num país notório pela quantidade de feriados.

LEIA MAIS
Paulistano desperdiça 17 dias por ano no trânsito (aberto assinantes)
Planilha com os tempos de deslocamento por cidade (Google Docs)

O dado usado na reportagem de hoje vem do Censo. Segundo os resultados da amostra, no município de São Paulo quase 6% dos moradores levam mais de duas horas se deslocando para o trabalho. Para fugir de aluguéis caros, ou comprar um imóvel em conta, muita gente vai morar longe do trabalho. Aí acontece o seguinte: 15% dos moradores de Itapecerica da Serra, uma cidade ao lado de São Paulo, levam mais de duas horas para ir e voltar do trabalho.

Embora em São Paulo mais gente sofra com a tranqueira, não é só aqui que se leva tanto tempo no deslocamento: ao todo, apenas em 28 cidades no Brasil ninguém na amostra do IBGE levava mais de uma hora em seus deslocamentos. A maioria delas é de cidades pequenas na região Sul.

Não existe solução simples para o problema, muito menos existe solução que não passe por restringir a quantidade de carros em circulação. Mas os engarrafamentos são um orgulho tão grande para São Paulo que meramente pensar em tocar no assunto dos pedágios urbanos leva a reações emocionais. O ex-governador e pré-prefeitável José Serra andou dizendo outro dia que o prefeito que fizesse isso arriscaria um impeachment.

(Como todo motorista vota, e como os motoristas paulistanos adoram seus carros por mais stress que lhes causem, imagino que prometer pedágio urbano não deva atrair muitos votos mesmo. O que não significa que essa questão não deva ser debatida no seu mérito por quem deseja administrar a cidade.)

Nessas horas, é sempre fácil culpar “o governo, que não faz nada”. E pouco faz mesmo. Mas será que a responsabilidade é toda só dele? Ou só de um deles? Será que a gente não tem um pouco de responsabilidade em reduzir o nosso próprio sofrimento também?

Não tenho solução no bolso para a cidade, e mandem me internar se um dia eu disser que tenho. Desconfio sempre quando alguém tem UMA solução pronta na ponta da língua para um problema complexo (“a solução é a bicicleta”, “a solução é o metrô”, “a solução é…”). Só sei que não se chega a uma situação caótica assim sem um esforço coletivo e suprapartidário entre diferentes esferas do governo, empresas e cidadãos. Minha distribuição das responsabilidades:

  • Governo federal: incentiva a venda de carros e historicamente colaborou pouco com a expansão de meios de transporte público mais adequados às grandes cidades brasileiras.
  • Governo estadual: é o responsável pelo metrô, um dos grandes desafogadores do trânsito, mas demorou tanto a expandi-lo que qualquer pouca expansão que crie hoje em dia acaba lotando rapidinho.
  • Governo municipal: permite estacionamento em praticamente todas as ruas, o que reduz o espaço para circulação dos carros que estão na rua e ao mesmo tempo estimula o motorista a circular, porque dependendo não terá custo para parar. Proibiu a circulação dos fretados em parte da área urbana, incentivando trabalhadores a ir de carro. Expandiu praticamente nada os corredores de ônibus.
  • Empresas: início e fim de expediente, na maior parte dos casos, se concentram sempre nas mesmas horas, o que concentra a demanda pelas ruas (já sobrecarregada). Construtoras têm uma responsabilidade extra pelo engarrafamento. Há alguns anos, a Folha noticiou que novos empreendimentos imobiliários na cidade eram feitos sem levar em conta a capacidade das ruas do entorno, causando engarrafamentos até na garagem do prédio. Mais recentemente, o jornal mostrou que os empreendimentos trava-trânsito se concentram na área nobre de São Paulo.
  • Cidadão: mora longe do trabalho, ou trabalha longe de casa. Pode não ter muita escolha nisso, nem muita escolha nos horários, mas tem escolha em como ir para o trabalho. Lógico que na maior parte do tempo o cidadão é vítima desse quebra-cabeça cruel que é o trânsito. Mas ao mesmo tempo quem está preso no trânsito é parte do problema. E, se você pega o carro até para ir à esquina, certamente você é uma engrenagem importante dele.

Cada um tem sua forma de viver com isso, equilibrando do melhor jeito que consegue as bolas que caem no seu colo.

No Twitter, o @wilerson me contou que se mudou para mais perto do trabalho quando fez a conta de que perdia um mês por ano no trânsito. O @kadu_nogueira contou que seus colegas o odeiam porque mora a 100 metros do escritório. O @yusana trabalhou por um ano no mesmo prédio onde vive – mas engordou 20 quilos no período.

Eu nunca quis aprender a dirigir e faço questão de morar perto do trabalho (ou trabalhar perto de casa). Li a frase do título deste post pichada num muro da Consolação, há alguns anos, e nunca me saiu da cabeça. Resume bem o que eu penso da mera ideia de ficar preso no trânsito todo dia.

Conte aqui nos comentários o seu jeito pessoal de lidar com esse problema.

OLHO NO CENSO:
Bem casado é quem bem vive (28.abr)
No trabalho, menos crianças e mais velhos (1.mai)
Tá em casa (4.mai)
Botando as mães no meio (12.mai)
Você passa mais tempo no trânsito do que com sua família (3.jun)

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O pedestre: meio desligado ou pouco respeitado? http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/18/o-pedestre-meio-desligado-ou-pouco-respeitado/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/18/o-pedestre-meio-desligado-ou-pouco-respeitado/#comments Wed, 18 Apr 2012 19:02:18 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=150 O André Monteiro, de Cotidiano, assina hoje com o colega Reynaldo Turollo Jr. uma reportagem (com texto completo para assinantes) sobre pesquisa em que a CET-SP ouviu de 404 motoristas e 432 pedestres sua avaliação da campanha de respeito ao pedestre.

BAIXE AQUI:
Avaliação de comportamento – prioridade do pedestre na travessia
6° ciclo de coletas – respeito à prioridade do pedestre na travessia

A empresa descobriu que em vários cruzamentos os motoristas não apenas não param como também põem a culpa no coitado do pedestre. Alguns disseram não parar porque não sabem se o pedestre quer ou não atravessar quando está parado e não faz o sinal da mão. Acham o pedestre meio desligado e presumem que ele quer ficar onde está.

Esta é a análise que o André faz dos números:

Desde que lançou a campanha do pedestre, a CET tem tentado “acompanhar” sua efetividade fazendo pesquisas de opinião e levantamentos estatísticos.

Quando olhei os dados das duas últimas pesquisas divulgadas, uma de cada tipo, chamou minha atenção como, neste caso, elas devem ser lidas em conjunto.

Na pesquisa de opinião, a CET perguntou a um grupo de motoristas se ele respeitava a preferência do pedestre que atravessa na faixa: 97,5% responderam que sim.

A pergunta deve ser feita, mas dificilmente haveria resultado diferente, já que quase ninguém mesmo responderia que não cumpre a lei. É como perguntar para uma pessoa se ela é uma boa profissional, quem é que vai responder que não?

Mas aí que entra o levantamento. Para checar se os motoristas realmente estão dando preferência à faixa, escolheram cinco cruzamentos e contaram os carros que paravam para o pedestre atravessar. Resultado: 73% não pararam.

A opinião dos motoristas demonstra um egoísmo atroz, no nível do Pateta no clássico desenho animado “O Rei do Volante“.

Certa vez visitei Malmö, no sul da Suécia, e ficava até constrangido porque os motoristas paravam mesmo quando eu só queria ficar olhando o que havia do outro lado da rua. E não ficavam ansiosos, e sim sorridentes. Tinham a noção de que o pedestre é mais atrasado pelos carros do que os carros são atrasados pelos pedestres – e que quem não está protegido por um escudo de lata está mais exposto a se ferir se o trânsito for selvagem.

O repórter me forneceu os dois estudos que recebeu para a pesquisa. Estão em PDF, apenas com dados resumidos. A CET não forneceu a planilha completa, só incluiu dados resumidos de quatro cruzamentos onde o levantamento foi feito.

Qual é a sua experiência no trânsito de São Paulo, nessa queda-de-braço entre motoristas e pedestres?

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