A multa de 68 segundos

Por Marcelo Soares

Gosto de ver comparações inusitadas que ajudam a dar a dimensão das coisas.

O Google foi acusado de criar barreiras à investigação de possíveis abusos que ele pode ter cometido ao fotografar as ruas de cidades do mundo (inclusive São Paulo) para o Google Street View. A empresa chegou a pedir desculpa porque seus carros turbinados coletaram até as senhas de wi-fi de onde eles passaram.

A multa imposta pela Federal Communications Commission, a super-Anatel dos Estados Unidos: US$ 25 mil.

É muito ou é pouco?

A ProPublica fez as contas: em se tratando de uma empresa que, no último trimestre, lucrou US$ 2,89 bilhões, a multa representa apenas 68 segundos de lucros.

Um exemplo nacional: em março, a operadora Vivo foi multada em R$ 4,1 milhões por descumprir metas de qualidade. No ano inteiro de 2011, o lucro líquido da empresa foi de R$ 5,1 bilhões. Ou R$ 0,58 milhão por hora.

A multa, para usar o mesmo tipo de comparação feita pela ProPublica, representa 7 horas de lucro da Vivo.

Taí uma boa medida, que vou passar a usar.

EDITADO: nosso professor Gustavo Romano, do blog “Para Entender Direito“, enviou a seguinte observação muito pertinente sobre a medida em horas-lucro:

não se esqueça que sua nova medida tem o perigo de ser mais benéfica às empresas menos eficientes. uma empresa que dê prejuízo ao acionista (e sociedade) vai parecer muito mais prejudicada por essa nova forma de medir. pior: há um bis in idem. imagine uma multa de $365 em uma empresa que teria dado lucro de $720 se não fosse a multa. a multa representaria 6 meses, mas como a multa reduz o proprio lucro, ela na verdade representa 1 ano de lucro.