Hoje, o escritor Joaquim Maria Machado de Assis completaria 173 anos. Dono de uma prosa elegante, ainda que a gurizada do ensino médio deteste, ele lidava com grandezas de uma maneira muito simpática.
A mais famosa é a descrição da duração de um relacionamento de Brás Cubas com uma periguete: durou “quinze meses e onze contos de réis”. Preciso, afiado, irônico.
Mas não parou por aí.
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Ao contrário de quem nasceu nas últimas décadas do século 20, Machado de Assis viveu sua vida inteira usando uma mesma moeda – os réis, com seus mil-réis e contos (milhões) de réis, medidas confusas de inspiração portuguesa. Machado achava-os atrapalhantes e esteticamente feios.
Em crônica de março de 1889 (leia aqui), o bruxo do Cosme Velho propunha:
“Mas, principalmente, o que vejo nisto é um pouco de estética. Tem a Inglaterra a sua libra, a França o seu franco, os Estados Unidos o seu dólar, por que não teríamos nós nossa moeda batizada? Em vez de designá-la por um número, e por um número ideal — vinte mil-réis — Por que lhe não poremos um nome — cruzeiro — por exemplo? Cruzeiro não é pior que outros, e tem a vantagem de ser nome e de ser nosso. Imagino até o desenho da moeda; e de um lado a efígie imperial, do outro a constelação… Um cruzeiro, cinco cruzeiros, vinte cruzeiros. Os nossos maiores tinham os dobrões, os patacões, os cruzados, etc., tudo isto era moeda tangível; mas vinte mil-réis… Que são vinte mil-réis? Enfim, isto já me vai cheirando a neologismo. Outro ofício.”
O Brasil mudou o nome da moeda em 1942. Justamente para cruzeiro. Não sei se a inspiração foi da proposta de Machado. Alguém sabe?
(Se você está no ensino médio e detesta o Machado de Assis obrigatório, minha dica: volte a ele depois de passar a obrigação e procure suas crônicas. O link está aí em cima.)