O Datafolha publicou no final de semana a mais nova pesquisa de intenção de votos para prefeito de São Paulo e outras capitais. Aqui, a grande surpresa foi o empate técnico entre José Serra (PSDB) e Celso Russomanno (PRB).
Claro que gerou polêmica. Russomanno, favorito dos evangélicos, atribui seu crescimento aos ataques entre os dois principais partidos nacionais: “Enquanto PT e PSDB se atacam, estou trabalhando“, disse ele. Serra disse que aposta no horário eleitoral para subir mais. Petistas viram no resultado da pesquisa um sinal do racha na campanha e convocaram a mulher de Fernando Haddad para participar da campanha.
A história que as pesquisas contam hoje é esta:
Antes de bater o martelo sobre o que isso significa para o resultado da eleição, é preciso olhar em que dia estamos. Estamos em 23 de julho? Bom, falta pouco menos de um mês para o horário eleitoral.
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Serra e Russomanno lideram disputa pela prefeitura de SP (Folha, 21.jul.2012)
Maluf usa ação na Justiça como estratégia (Folha, 24.ago.2000)
Acervo de pesquisas eleitorais (Fernando Rodrigues)
O horário eleitoral começa só em 21 de agosto. Antes disso, as pesquisas só conseguem captar o quanto os candidatos são conhecidos. São importantes para os partidos definirem que foco dar à sua campanha, mas antecipam muito pouco o comportamento que o eleitor terá na frente da urna em outubro.
Descobri isso na prática em 2000, quando participei da cobertura da eleição municipal aqui na Folha. O gráfico abaixo conta a história daquela campanha segundo o Datafolha. Perceba como os candidatos se “embolam” depois que começa o horário eleitoral. Não há candidato que fique indiferente.
Até junho do ano eleitoral, as pesquisas testam a popularidade dos nomes que os partidos podem apresentar. Quanto mais perto de junho, mais definidos. Sempre pode haver uma desistência durante as convenções, que ocorrem ao longo do mês, para apoiar candidaturas mais populares.
A campanha nas ruas começa dia 5 de julho. Entre esse dia e o começo do horário eleitoral, as pesquisas também captam basicamente o quanto os candidatos definidos são conhecidos. Não muda muito a ordem dos fatores.
Tudo muda de figura depois que começa o horário eleitoral e a propaganda dos candidatos na TV. Como descobriu Richard Nixon no primeiro debate televisionado dos EUA, em 1960, a TV pode fazer e desfazer favoritismos.
Por mais que a maior parte dos eleitores diga desligar a televisão durante o espaço dedicado aos candidatos, ao longo da transmissão do horário eleitoral candidatos desconhecidos se tornam conhecidos e indecisos começam a decidir. Aqui, os marqueteiros e os criativos fazem sua festa.
É por isso, e basicamente por isso, que Lula fechou aliança entre o seu PT e o PP de Paulo Maluf. O 1 minuto e 43 segundos ofertado pelo partido do ex-prefeito garante a Fernando Haddad um total de 7 minutos e 35 no horário eleitoral dos prefeituráveis, segundo a projeção feita pela Folha. Nove segundos a menos que Serra – então, a disputa entre os dois na TV será direta.
Na eleição de 2000, Geraldo Alckmin (PSDB) era praticamente desconhecido antes do início do horário eleitoral. Quando começou a campanha, começou a aparecer e a crescer. Em dado momento, chegou a ficar em segundo lugar no Datafolha.
O melhor termômetro do quanto um candidato está crescendo nas pesquisas é o volume de processos movidos pelos outros candidatos contra ele na Justiça Eleitoral. Esses processos visam tirar minutos de propaganda desses candidatos, para evitar que cresçam. Parte importante do meu trabalho em 2000 era acompanhar esses processos. Percebi que Maluf, em segundo lugar nas pesquisas, vinha se tornando o campeão em processar os oponentes.
Um dia, recebi do advogado da Folha a dica de que Paulo Maluf havia montado um escritório apenas para monitorar o que seus concorrentes diziam sobre ele. Visitei o escritório, com o então fotógrafo João Wainer. Era um andar inteiro no Itaim. Uma sala tinha uma TV ligada em cada canal. Cada TV com um estagiário atento e um videocassete gravando a programação inteira. Noutra sala, estagiários monitoravam o rádio. Noutra, havia exemplares de jornal sublinhados de acordo com um código de cores.
No instante em que alguém falasse algo, seus advogados colocavam a fita de VHS na garupa de um motoboy para protocolar o processo na Justiça Eleitoral.
Alckmin só se manteve em segundo lugar por uma edição da pesquisa. Mas começou em último e terminou em terceiro. No meio do caminho, adotou a prática de contra-atacar Maluf.
Você pode dizer que é história antiga. Mas veja como as pesquisas Datafolha contam a história da eleição de 2008, em que o mesmo Alckmin começou como favorito.
Kassab, o atual prefeito, estava em terceiro lugar nas pesquisas logo no começo. Quando começou o horário eleitoral gratuito, Kassab foi galgando posições e Alckmin foi perdendo espaço. Ao final do primeiro turno, Kassab estava em segundo. No segundo turno, ganhou de Marta Suplicy. O resultado são os últimos quatro anos.
Tudo isto para lembrar que é muito difícil prever com segurança o resultado de uma eleição apenas a partir das pesquisas eleitorais publicadas antes do horário eleitoral gratuito.
Lembre disso antes de brigar com seus amigos na mesa de bar. Nossos caríssimos políticos brigam à vontade e depois viram amigos de infância em nome do horário eleitoral.