A Folha publicou nesta quarta uma reportagem interessante, segundo a qual o Detran aplica apenas 0,05% do dinheiro das multas em educação para o trânsito.
Em reais, isso significa o seguinte: a cada R$ 2 mil que um mau motorista pagar em multas, apenas R$ 1 vai para campanhas de educação para tentar gerar bons motoristas. O resto vai para serviços administrativos, emplacamento, transferência das instalações do Detran e reaparelhamento da polícia.
Pior. Olhando a tabela das multas se vê que, antes de um mau motorista conseguir contribuir com R$ 1 para a educação dos outros motoristas, ele já terá perdido a habilitação.
Uma infração gravíssima relativamente comum, como executar retorno em local proibido pela sinalização, vale 7 pontos na carteira e cerca de R$ 200 no bolso.
Até pagar R$ 2 mil em multas desse tipo, o mau motorista já perdeu 70 pontos na carteira. Ou seja: perdeu três vezes o direito de dirigir e se encaminha alegremente para a quarta. Faça as contas com a sua barbeiragem favorita e o resultado é sempre perder a carteira antes de gastar R$ 2 mil em multas.
Nos comentários da matéria da Folha, havia leitores – certamente motoristas, provavelmente maus motoristas – se queixando da “indústria da multa”.
O problema não é esse. Multa-se muito pouco em São Paulo. Você certamente conhece vários casos de quem fez retornos proibidos e não foi multado. Talvez você mesmo tenha feito isso vezes demais para contar nos dedos, fora todas as outras barbeiragens possíveis.
O problema é que as autoridades competentes não fazem a menor questão de esconder que usam a multa apenas como fator de arrecadação, sem priorizar a disciplina do trânsito. Por isso, em grande parte, é que temos esse trânsito violento.