Olho no Censo: o Brasil de “Gabriela” já acabou

Por Marcelo Soares
A menina Malvina (Vanessa Giácomo). Foto: Estevam Avellar/Globo

O IBGE divulgou hoje os dados detalhados de “nupcialidade, fecundidade e migração”, da amostra do Censo.

Eles mostram um Brasil mais moderno e diverso, onde os brasileiros se casam com pessoas do mesmo grau de instrução, em quase dois terços dos casais os dois trabalham, casar na igreja fica mais raro nos grupos de maior renda e um sexto dos casais abriga filhos de outros relacionamentos.

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Oito décadas depois da época em que se passa a novela “Gabriela”, temos uma sociedade que já transformou em folclore as tramas novelosas dos casaizinhos.

Naquele Brasil do final da década de 1920, casar era só de papel passado, na igreja. Divórcio, nem pensar – era viuvez ou “ficar falado”. Morar “amigado” era anátema. Malvina, estudante de cabeça aberta, ouve do pai e do pretendente que esse negócio de ficar estudando não é coisa de mulher direita, porque vai ficar cheia de ideias. Mulher trabalhar fora? Só se fosse viúva, criada ou “quenga”.

Você pode espiar pela fechadura desse Brasil que existia e que, de acordo com os dados do Censo, está mudando. É só conversar com seus avós, caso tenha o privilégio da companhia deles.

Minha avó, de 93 anos, foi tirada da escola pelo pai na terceira série porque recebeu um bilhetinho inocente de um colega. Viúva  jovem do primeiro marido, foi trabalhar numa bombonnière e corria para não perder o último bonde, porque sabia de vizinhas que ficavam espiando pela janela para ter assunto. As mulheres da geração seguinte, embora tenham tido de ralar muito na vida, não passaram metade disso. Para as da minha geração, a pressão da família já é para não largar os estudos; casar ou não sequer chega a ser uma preocupação. Trabalhar é pressuposto, não rebeldia.

Veja no infográfico abaixo o retrato do Brasil atual, do Brasil que transformou “Gabriela” em quase completa ficção.