Afinal de Contas

por Marcelo Soares

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Marcelo Soares escreve sobre dados e o que eles podem revelar

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M’Boi Mirim tem uma taxa de homicídios colombiana

Por Marcelo Soares

Nas últimas semanas, notícias sobre chacinas se tornaram uma constante em São Paulo. Especialmente em alguns bairros da zona sul de São Paulo. Mas qual é o tamanho exato da gravidade do problema? Como ele se compara a outros lugares do mundo?

Os 1.225 homicídios contabilizados em São Paulo até outubro tornam-se uma taxa de 10,9 homicídios por 100 mil habitantes, já superando os três últimos anos inteiros. O ano ainda não fechou e novembro foi um mês sangrento, então deve piorar.

O jornal “The Guardian” comparou num mapa dados da UNODC sobre as taxas de homicídio das cidades mais populosas do mundo. As piores estão na América Central. São Paulo, com 10,8 homicídios por 100 mil habitantes em 2009, estava ensanduichada entre Ulan Bator, na Mongólia (10,2) e Kampala, em Uganda (15,3). Nada comparável a Caracas (122 a cada 100 mil), claro, mas isso não é exatamente um mérito.

Clique no mapa para ver o gráfico preparado pelo “Guardian”.

Já sabemos que a taxa de homicídios varia de região a região. Algumas são mais sangrentas que outras, como é possível ver no Radar da Violência. Mas, como a divisão dos distritos policiais na cidade não coincide com a das subprefeituras, é possível apenas fazer aproximações para comparar os dados em nível mais local.

A subprefeitura com o maior número de mortes no ano, a do M’Boi Mirim, deu nota 3,8 à segurança no período da pesquisa. Desde junho, porém, os homicídios dispararam. Dos 37 registrados até então nos DPs 92 e 100, que atendem à região, a contagem de corpos disparou para 99 ao final de outubro. Apenas em setembro e outubro, foram 32 vítimas, principalmente no 92º DP (Parque Sto. Antônio).

Considerando os 563,3 mil habitantes, a taxa de homicídios do M’Boi Mirim fica em 17,6 mortes por 100 mil moradores. É uma taxa colombiana: Bogotá teve 17,4 homicídios para cada 100 mil habitantes em 2009. Não custa lembrar que a taxa do M’Boi Mirim ainda pode aumentar até o final do ano. Tomara que não chegue a se comparar à de Porto Príncipe, no Haiti (24,1).

Ao lado do M’Boi Mirim, os moradores da subprefeitura de Campo Limpo já na época da pesquisa davam nota 3 para a segurança – a pior da cidade. De janeiro a outubro, os dois distritos policiais que atendem à região – 47º (Capão Redondo) e 37º (Campo Limpo) registraram 89 homicídios.

Considerando os 607 mil habitantes registrados pelo Censo em 2010, isso equivale a 14,6 mortes por 100 mil habitantes. A taxa do Campo Limpo é um pouco inferior à de Kampala, em Uganda (15,3).

No outro extremo, está a zona Oeste, região que deu a nota média mais alta para a segurança na pesquisa feita pelo Datafolha – 4,8. Os nove distritos da região registraram apenas 76 homicídios no ano inteiro. Considerando o 1,02 milhão de habitantes registrados pelo Censo em 2010, isso equivale a 7,4 mortes por 100 mil habitantes. Algo como Talinn, na Estônia (7,3).

Há nuances na zona Oeste, porém: o 75º distrito policial, um dos dois que atendem ao Butantã, na zona Oeste, registrou 20 homicídios no ano. O Jardim Arpoador, onde se localiza o distrito, é separado do Campo Limpo apenas por um pedaço de Taboão da Serra, cidade da Grande São Paulo que também vem registrando chacinas na recente onda de ataques. Butantã deu nota 4,1 para a segurança no “DNA Paulistano” – a pior da zona Oeste.

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