Hoje, o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu ao Congresso medidas para o controle da venda de armas que incluem mais verificações de antecedentes, a proibição da venda de armas pesadas e pentes de munição de alta capacidade. O New York Times publicou a íntegra do seu discurso.
Horas antes, mais um jovem entrou atirando numa universidade nos EUA, um mês depois do tiroteio numa escola de ensino fundamental Sandy Hook, em Newtown, Connecticut. Desta vez, foi em Hazard, Kentucky, e duas pessoas morreram.
O atirador, um garoto de 21 anos, foi preso como James Holmes, o atirador do cinema que passava o filme do Batman em julho. Ele não cometeu suicídio como Adam Lanza, que matou 26 em Sandy Hooks, e nem foi morto pela polícia como Michael Lance, que matou 7 pessoas de sua família em Ohio em 2011.
Veja neste link a planilha que preparei com casos de tiroteios desde 1966. De acordo com ela, esses atiradores têm em média 30 anos de idade, são homens (não há nenhuma mulher na lista), costumam agir sozinhos (27 dos 29) e deixam em média mais de 10 corpos. Devem estar faltando alguns casos; avisem.
Seu destino mais comum é o suicídio: 15 dos 29 acabaram com a própria vida. Em quatro casos, foram mortos pela polícia. Noutros dez casos foram presos.
Pessoalmente, sou contrário à proibição pura e absoluta da venda de armas. No Brasil, bandido não compra arma em loja. Mas é sempre bem-vindo um controle mais rígido dos antecedentes de quem quer comprar algo perigoso como uma arma.
Li certa vez que nos EUA é mais difícil tirar carteira de motorista do que obter autorização para usar armas. Não sei o quanto isso é verdade, mas uma melhor checagem de antecedentes não impediria os atiradores que utilizam armas roubadas ou compradas no mercado negro, por exemplo.
Segundo um excelente artigo da The Economist, a afeição dos americanos pelas armas vem desde a Guerra Civil (1861-1865), quando a fabricação de armamentos impulsionou o desenvolvimento da indústria por lá. A Constituição do país inclui entre os direitos de qualquer cidadão o de possuir armas.
É com base nisso que os defensores mais empedernidos desse direito são contra o controle dos antecedentes de quem compra. Eles têm o direito de ter armas como um direito fundamental de qualquer cidadão. Assim, nos EUA é mais fácil e comum um psicopata comprar legalmente sua própria arma. Jared Lee Loughner, que baleou a parlamentar Gabrielle Giffords no início de 2011, foi à loja comprar todo o equipamento que utilizou.
(No Brasil, é um tanto diferente. Wellington Menezes de Oliveira, que matou 12 crianças numa escola do Rio no ano passado, comprou sua arma ilegalmente. Assim como ocorre com a maior parte dos que cometem crimes usando armas no Brasil. As facções de bandidos não compram arma em loja.)
Os fãs das armas nos Estados Unidos costumam ser raivosos com qualquer tentativa de tornar um pouco mais difícil o controle de armas. Ontem, a National Rifle Association publicou em seu site um vídeo zombando do presidente por manter seguranças armados para suas filhas enquanto aumenta os controles sobre as armas dos outros pais.
Ainda que a maior parte dos donos de armas nos EUA seja séria (a maior parte de qualquer grupo de pessoas é) e não pretenda cometer crime algum (a maior parte de qualquer grupo não pretende), o lobby por controles menos rigorosos facilita muito a vida dos psicopatas. Claro que eles são uma minoria, mas casos como o de hoje mostram que eles existem e não podem ser ignorados.