Afinal de Contas

por Marcelo Soares

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Gahn Bin Arra, o terrorista do Brasil

Por Marcelo Soares

Após uma semana trabalhando como um dos enviados especiais da Folha a Santa Maria, onde fui ajudar a cobrir a tragédia da boate Kiss, cheguei à conclusão de que o Brasil sofre com as ações de um perigoso terrorista.

Ele age com mais frequência do que a Al Qaeda e mata mais do que o grupo de Osama Bin Laden matou ao atacar nos Estados Unidos. Muitas vezes, mata em silêncio. Seu nome é Gahn Bin Arra (pronuncia-se “gambiarra”). Ele planejou todos os grandes desastres recentes no Brasil. A rede Al-Gahnbi ataca no mundo inteiro, mas tem células muito fortes no Brasil, com a colaboração voluntária de empresários e autoridades.

Foi obra de Gahn Bin Arra a instalação da espuma de poliuretano na boate Kiss. Foi coisa de Gahn Bin Arra a compra dos sinalizadores baratinhos que queimaram a espuma. Tem todo o jeito de ser Gahn Bin Arra a aprovação da boate naquele prédio mesmo sem ter duas portas independentes para as pessoas saírem na hora do perigo.

No ano passado, as digitais de Gahn Bin Arra estavam na reforma inaprovada de um andar do prédio que desabou no centro do Rio.

Bueiros explodindo? Só pode haver dedos de Gahn Bin Arra nesse negócio de misturar gás e eletricidade no mesmo buraco.

É garantido que Gahn Bin Arra prepara ataques para a Copa. A queda do alambrado da arena do Grêmio, onde desde a inauguração o gramado já estava detonado, foi apenas um aviso. Mas é fácil dizer “quero ver na Copa”.

Fácil e míope, aliás.

Até porque a própria lógica de usar um megaevento esportivo de um mês para ajustar a infraestrutura há muito necessária para o dia-a-dia é uma lógica míope.

Na Grécia e na China, boa parte das dispendiosas estruturas construídas para jogos olímpicos se tornaram tão inúteis quanto as superfaturadas estruturas construídas no Brasil para os jogos panamericanos de 2007.

É sério que precisa mesmo de um mês de festa daqui a um ano e meio para os governos descobrirem que precisam melhorar a estrutura que leva milhões de habitantes para o trabalho todo dia? É sério que precisam morrer 237 numa boate para finalmente as prefeituras resolverem fazer o seu trabalho de fiscalização?

Esqueçam o papo de quero ver na Copa. Quero ver é no dia-a-dia, com a população indo e vindo do trabalho ou da escola ou do lazer. É esse pessoal que vai continuar por aqui depois de um mês de festa. E geralmente tem inglês visitando também pra ver, se esse é o problema.

Para o Brasil se preparar a tempo para o dia-a-dia de quem mora aqui, porém, receio estarmos um tanto atrasados no cronograma.

Gahn Bin Arra, por sua parte, está sempre a postos para o que der e vier. Esse cara é ele.

Gosto de uma frase dita nesta semana em Santa Maria, numa entrevista coletiva, pelo delegado regional Marcelo Arigony, que estava a cargo da investigação sobre o que houve na boate Kiss. Ele criticou o improviso nas obras e lembrou que não acontece só lá. Arigony, que perdeu uma prima na tragédia, disse:

“Isto ocorre no Brasil todo. O mundo mudou, não tem mais espaço para amadores.”

Se o alerta pegar, está aberta a temporada de caça a Gahn Bin Arra.

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