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por Marcelo Soares

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Redução da maioridade cultural – já

Por Marcelo Soares

O Senado aprovou ontem uma mudança no Estatuto da Juventude que aumenta a maioridade cultural para os 29 anos de idade. O mesmo país que discute reduzir a idade para pagar pelos próprios crimes resolveu aumentar a idade para pagar pelo próprio ingresso.

Trata-se de um absurdo. Aos 29 anos de idade:

  • minha mãe tinha três filhos;
  • minha avó era viúva do primeiro marido;
  • Jon Lord já havia composto o Concerto for Group and Orchestra;
  • Federico Fellini estava gravando seu primeiro filme, “Mulheres e Luzes”;
  • Quentin Tarantino estava lançando “Cães de Aluguel”;
  • Amy Winehouse havia feito uma carreira inteira e morrido;

Você pode argumentar que a maioridade cultural mais alta será apenas para jovens de baixa renda, beneficiários de programas sociais. Legal. Mas não foi ainda outro dia que estavam aprovando o vale-cultura para o trabalhador?

E por que só quem é pobre tem maioridade cultural mais alta? Renda baixa faz demorar mais o amadurecimento cultural? Quem tem renda baixa começa a trabalhar até mais cedo do que quem tem renda mais alta. Atenção: isso não significa que eu defenda que quem tem renda mais alta deva ter a maioridade cultural aumentada também.

E por que aos 29 anos, e não aos 18 (mesma idade da maioridade legal), 21 (idade da maioridade plena) ou 24 (idade máxima para receber pensão alimentícia)? Por que não aos 37 ou aos 42, já que se está aumentando mesmo? Aí o cara passa 18 anos pagando inteira pra voltar a pagar meia quando chegar à “melhor idade”, que tal?

Eu sou plenamente a favor da redução da maioridade cultural. Nem quando eu tinha carteirinha de estudante de pós-graduação tinha coragem de pedir meia-entrada (quando eu estava na faculdade não existia meia-entrada na minha cidade). Acho absurdo alguém que trabalha não poder pagar pelo próprio ingresso. É o mínimo, e é de vez em quando.

Ah, mas como quem é mais pobre vai pagar pelo próprio ingresso?

Aí tem duas pontas. Uma ponta, a da demanda, é o sujeito trabalhar. A outra é o lado da oferta: o preço exorbitante do ingresso. Tanto que os produtores de espetáculos elogiaram a medida. Isso demonstra que a medida não toca no preço.

Como não, você pergunta? Simples. Para dar conta do alto volume de meias-entradas, as casas de espetáculos aumentaram o preço dos seus ingressos. Li recentemente uma confissão de um produtor de festival, dizendo que o preço justo seria o preço da meia, pago por 95% dos seus espectadores.

Limitar a cota de quem paga meia, porém, apenas tangencia o problema.

Você certamente já viu preços de produtos que consome subirem quando sobem os preços dos combustíveis. Fica mesmo mais caro levar o produto de um lado para o outro. Mas já viu os mesmos preços caírem quando o preço dos combustíveis cai?

Nessa lógica econômica, o que o Senado fez, na verdade, foi criar uma cota de 60% de ingressos que pagam dobrado, que por marquetim chamam “inteira”.

Aliás: 40% do quê? Do total de assentos ou do total de ingressos vendidos? Ninguém tem como saber exatamente quantos ingressos vai vender, então suponho que sejam 40% do total de assentos. E, tirando estreias de blockbusters, você costuma ver cinema lotar? Duvido que a maior parte dos teatros lote, também.

Ou seja: o incentivo à meia-inteira e à inteira-dobrada continuará onde sempre esteve, exceto em casos excepcionais. E assim segue a vida no país das prioridades invertidas.

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