Em 352 cidades, mais eleitores estão registrados do que há moradores, segundo um cruzamento feito por este blog entre os dados do TSE, de registro eleitoral, e a estimativa populacional divulgada ontem pelo IBGE.
Isso geralmente ocorre em cidades pequenas do interior. Dessas 352 cidades, 296 têm menos de 5 mil habitantes. Uma a cada quatro está em Minas Gerais; somando-se as de Goiás e Piauí, chega-se quase à metade delas.
No município de Severiano Melo (RN), o número de eleitores seria mais do que o dobro do de pessoas residentes. A “terra do caju”, no oeste potiguar, teria 7,4 mil eleitores contra 3,5 mil moradores. Nada menos do que 111% a mais. Borá (SP), a menor cidade do Brasil, tem 45% de eleitores a mais do que seus 838 moradores.
A comparação, em si, não significa que haja problemas por lá. É preciso levar em conta o contexto de cada número; explico melhor daqui a pouco.
Pela lógica, o eleitorado de um município deve ser sempre menor do que sua população, dado que os menores de 16 anos não têm direito a voto. Pelas pirâmides etárias do Brasil, pouco menos de 15% da população ainda não tem idade para votar.
Confira todas as cidades que, numericamente, teriam mais eleitores do que moradores:
O IBGE produz a estimativa da população em cumprimento de lei, para que o Tribunal de Contas da União calcule as participações de cada cidade. Sempre. Dá. Briga. Especialmente onde não entendem de que se trata.
Ao contrário do Censo, onde o IBGE bate em cada domicílio para contar a população, a estimativa é uma projeção matemática feita a partir da “velocidade” de crescimento de cada cidade em relação ao do país entre os dois Censos anteriores.
Por isso é que, em anos de Censo mesmo, algumas cidades parecem inverter a tendência da projeção feita no ano anterior – entre um recenseamento e outro, houve algum fator que não foi captado pela projeção matemática. Não raro, empregos que surgem ou são eliminados.
Já o número de eleitores pode ser influenciado por diversos fatores, como pessoas que se mudaram e não transferiram seu título e pessoas que morreram mas a Justiça Eleitoral não ficou sabendo.
Essa é a razão por trás de muitos casos de alto número de abstenção – ela é menor onde há recadastramento. Ainda que, de vez em quando, algum morto volte para assombrar as urnas pelas mãos de gente viva até demais.