A Folha não errou, como quer o marqueteiro do candidato João Doria.
O propósito do texto publicado na sexta era analisar as prestações parciais de contas de campanha, com dados até o dia 8 de setembro e divulgadas no dia 15.
Usei informações do Repositório de Dados Eleitorais, feitas para que pesquisadores e jornalistas analisem as contas com detalhes. Os dados detalhados correspondiam ao período da prestação de contas. Porém, neste ano, em providência revolucionária há muito desejada por qualquer interessado na transparência dos dados públicos, a Justiça Eleitoral passou a atualizar diariamente os gastos de campanha. Esses são os dados disponíveis no Divulgacand.
Recebemos o alerta pelos telefonemas da campanha e constatamos que de fato havia discrepância entre os dados do RDE e os do DivulgaCand, e agradecemos pelo alerta, mas antes de qualquer ação precisávamos compreender a natureza da discrepância. Baixei várias vezes o arquivo do RDE e refiz a análise, que dava o mesmo resultado ao longo da sexta e do sábado.
Por honestidade intelectual, não posso considerar um erro a publicação de uma análise de dados oficiais informados pelas campanhas.
Consultamos a assessoria de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral, responsável pelas informações. Recebemos esta resposta oficial nesta segunda-feira:
“O DivulgaCand é destinado ao público geral que quer ver algumas informações consolidadas de divulgação de contas. O RDE é destinado ao pesquisadores que necessitam de informações mais detalhadas e apresenta as informações com o maior nível de detalhe possível. Contudo, o DivulgaCand apresenta o arquivo mais recente declarado pelo candidato. O RDE possui atualmente dois tipos de arquivos: os relatórios financeiros e a prestação parcial. Além disso, o DivulgaCand é atualizado 3x ao dia e o RDE apenas 1x ao dia.”
Apenas por cautela, para ter certeza de que eu não usei a fonte errada de dados, perguntei explicitamente ao TSE se há alguma outra maneira mais eficaz do que o Repositório para ter acesso mais detalhado aos últimos dados disponíveis. A resposta: “A maneira mais eficaz de trabalhar com os dados mais detalhados é pelo RDE.”
Se a análise publicada falhou, foi em não deixar claro que a versão do Divulgacand – linkada desde o texto original para que qualquer eleitor possa verificar as contas individuais dos candidatos sem precisar baixar meio gigabyte de dados – poderia estar mais atualizada. Nesse aspecto, lamento profundamente qualquer mal-entendido que possa ter causado. Incluímos essa informação no texto ainda na sexta-feira.
No sábado (17), publiquei uma análise básica com os dados do Divulgacand, mostrando que após a atualização os dados mostravam que Doria gastou com propaganda apenas mais do que a soma de todos os gastos de propaganda dos outros candidatos, e não mais do que a soma de todos os gastos dos rivais. Isso pode sugerir apenas que boa parte dos gastos dos outros candidatos foi informada após o período refletido nos dados antes analisados, enquanto o candidato tucano contratou o gasto antes.
No domingo (18), o RDE foi atualizado com os dados mais recentes, que correspondem de maneira mais próxima aos do Divulgacand. Tenho arquivadas todas as versões do material que usei até então.
Desde o incidente, e desde que o TSE passou a atualizar melhor o RDE, criei um painel analítico para que os leitores da Folha analisem os gastos e receitas de todos os candidatos por dia. Criamos paineis para São Paulo e para o Rio de Janeiro. Atualizo todas as manhãs, informando o horário do arquivo utilizado e alertando que o DivulgaCand pode ter dados fechados mais atualizados. Mas, para uma visão mais analítica, recomendo a nossa.