Sófocles, em “Édipo Rei”, conta que a esfinge propôs a Édipo a solução do seguinte enigma: “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?”. Ele matou a charada dizendo tratar-se do homem, que na primeira infância engatinha, na vida adulta anda a pé e na velhice usa bengala.
É mais ou menos esse o enigma que os novos prefeitos terão de enfrentar para governar melhor as cidades que administrarão a partir de janeiro. O cerne do enigma, no caso, é proposto pela pirâmide, que no Egito é vizinha do monumento à esfinge.
O IBGE divulgou nesta semana a retroprojeção da população de 1980 a 2030. Ela mostra que, paralelamente ao tempo que alguém da minha idade terá levado para percorrer as três fases da esfinge, o Brasil terá passado de um país de jovens para uma nação de adultos.
A sobreposição das pirâmides etárias é fascinante:
Basicamente, o que o IBGE fez foi foi corrigir retroativamente a distribuição da população por idade, usando dados mais recentes de mortalidade e migração. Os padrões gerais não mudaram tanto.
O que os novos prefeitos têm a ver com isso? Praticamente tudo.
No achatamento da base da pirâmide, há menor taxa de natalidade e, por consequência, proporcionalmente menos crianças.
Isso vai se refletir na atenção básica à gestante e na demanda por creches e escolas. Isso pode se refletir no tamanho de turmas e tentativas de fechamento de escolas, por exemplo. Cada vez mais o desafio será de qualidade, mais do que de quantidade.
No alargamento do topo da pirâmide, há maior longevidade e, por consequência, proporcionalmente mais idosos. Especialmente mais idosas, porque os homens vivemos menos.
Isso vai se refletir tanto no atendimento à saúde quanto em questões urbanísticas. Pessoas idosas têm necessidades muito especiais, tanto sociais quanto de saúde. As calçadas, na maior parte das cidades brasileiras, são hediondas. Levante a mão quem nunca viu alguma pessoa idosa tropeçar na rua, ou ao menos quase. O transporte público não é bem adaptado aos idosos. Não raro, há poucas opções de lazer para que as pessoas idosas se mantenham ativas. Isso implica maior gasto com assistência social.
Para quem se interessa em políticas públicas, esses temas estão em parte contemplados nas reportagens do Ranking de Eficiência dos Municípios-Folha, que fiz em coautoria com o mestre Fernando Canzian, há alguns meses.
Mas fica a pergunta: como os eleitos ou os ainda candidatos da sua cidade enfrentam o enigma da pirâmide?