Afinal de ContasCotidiano – Afinal de Contas http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br por Marcelo Soares Mon, 31 Oct 2016 12:55:38 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A Parada Gay, o Datafolha e ‘Os Sapos’ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/11/os-sapos/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/11/os-sapos/#comments Mon, 11 Jun 2012 11:53:16 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=424

Todo ano era assim: a Parada Gay acontecia, num evento de público impressionante; os organizadores davam um número na casa dos milhões – a estimativa chegou a cinco milhões em 2008 – e todo mundo publicava. No dia seguinte, repetia-se o poema “Os Sapos“, de Manuel Bandeira: “Não foi! Foi! Não foi!”. O problema é que número não é questão de opinião – é questão de medição.

Fã de rock desde sempre, eu estava na facção do “não foi” quando saíam as estimativas. Comparava com os grandes festivais de rock dos anos 60 e 70. Woodstock, com Jimi Hendrix, Janis Joplin, Joe Cocker, Santana e The Who? Teve no máximo 500 mil pessoas, e era um mar de gente. Ilha de Wight, com Hendrix, Miles Davis elétrico, Emerson Lake and Palmer e Gilberto Gil? Até 700 mil. California Jam, com Deep Purple, Black Sabbath e ELP? 250 mil. E eram mares de gente.

Neste ano, pela primeira vez, o Datafolha usou uma metodologia científica para calcular a multidão e chegou ao número de 270 mil participantes. Dos que participaram, apenas um em cada quatro fizeram o percurso completo.

Bem abaixo dos 4 milhões estimados pelos organizadores, que tratam o número como questão de opinião: “Na verdade, a gente não tem como mensurar. (…) Na minha opinião, se não superou os 4 milhões, ficou em 4 milhões”, disse o presidente da associação, Fernando Quaresma, à repórter Cristina Moreno de Castro.

Quatro milhões seria mais do que a população de qualquer município brasileiro que não seja São Paulo ou Rio de Janeiro. Também seria maior que a população de 15 Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. 270 mil é mais do que a população de 98,4% dos 5.565 municípios brasileiros, o que não é nada desprezível.

O número encontrado pelo Datafolha equivale a três shows do U2 no Morumbi. No show do U2, faltou táxi, e os disponíveis eram superfaturados; no dia seguinte a cada show, os aeroportos de São Paulo ficaram impraticáveis. Mas foi menor que o comício das Diretas-Já no Anhangabaú.

No Twitter, já começaram a declamar Manuel Bandeira usando como mote o Datafolha.

LEIA MAIS
Parada Gay reúne 270 mil pessoas, afirma Datafolha” (11.jun.2012)
Datafolha estreia novo cálculo de multidão” (9.abr.2012)
Esplanada comporta até 2,3 milhões de pessoas em eventos” (30.out.2011)
Datafolha desvenda o mistério das multidões paulistanas” (17.jul.2011)
IBGE – estimativa da população dos municípios, 2011

O instituto começou a desenvolver a nova metodologia no ano passado, após o esgrima de milhões entre a Parada Gay e a Marcha para Jesus.

Numa reportagem de Giba Benjamim Jr. para a revista São Paulo, o jornal mostrou que para caberem 4 milhões de pessoas nos 216 mil m² [EDITADO: antes, faltou o “mil”] do trajeto da Parada Gay, seria preciso amontoar 18 pessoas por metro quadrado. Se a concentração uniforme durante toda a parada fosse o aperto de um elevador lotado (três por metro quadrado), caberiam 666,7 mil pessoas. Se fosse a concentração irrespirável de um metrô lotado (seis por metro quadrado), seriam 1,3 milhão.

A editoria de Arte preparou até um teste para quem quisesse saber mais.

Neste ano, o Datafolha preparou uma nova metodologia, mais sofisticada, que permite traçar inclusive um perfil do público ao longo de um evento móvel. Pesquisadores entram na multidão e fazem perguntas aos participantes para saber por quanto tempo eles permaneceram – nem todo mundo fica do começo ao fim num evento longo, portanto a população não é estática. O novo cálculo estreou em 9 de abril, na Caminhada da Ressurreição, um evento católico. Veja os detalhes da metodologia aqui:

Na Parada Gay, o Datafolha encontrou 50% de homossexuais, 12% de bissexuais, 3% de transsexuais e 34% de heterossexuais. Mais da metade dos participantes (56%) eram homens. Em termos de educação, 55% tinham ensino médio e 39% tinham ensino superior. Mais da metade (53%) tinha até 25 anos. Veja os detalhes no infográfico abaixo:

Independente do tamanho do público, se foi astronômico ou “apenas” imenso, o importante é a mensagem deixada por um evento como a Parada Gay: não interessa o que os outros fazem lá na intimidade deles – no convívio em sociedade, todos são iguais e merecem respeito.

Esse respeito não vem da quantidade de participantes que eles levam à rua, e sim do fato de eles viverem, trabalharem e serem cidadãos como quaisquer outros.

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As marchas são um bom sinal http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/06/marchas/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/06/marchas/#comments Wed, 06 Jun 2012 17:58:16 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=417 Minha ex-aluna Nanni Rios foi bloqueada no Facebook porque postou uma foto da Marcha das Vadias de Porto Alegre. Agora, preciso aprovar qualquer comentário que ela posta para mim, porque foi considerada spammer.

Luka Franca, a quem entrevistei no tempo da MTV, foi bloqueada porque postou uma foto sua, com os seios à mostra, na marcha de São Paulo. Meu colega Alexandre Orrico foi bloqueado no Facebook porque compartilhou uma reportagem do Lucas Sampaio com a foto da Luka – esta aqui ao lado.

Muita gente não entende por que raios as pessoas vão à rua reclamar por coisas tão aparentemente pequenas. Como o leitor Saulo Marino, de São Carlos:

“O que acontece é que hoje em dia está na moda ir para a rua reclamar. É marcha dos usuários de maconha, dos gays, das feministas, dos libertários… o problema é que esqueceram de avisar à população do que está acontecendo e por que está acontecendo. Esses movimentos vivem dentro de uma bolha ou viraram festa e perderam a identidade, esta é a verdade.”

Por que ficou “na moda ir para a rua reclamar”? Um estudo feito por um economista da Universidade Harvard e dois do World Justice Project sugere uma parte da resposta. A “Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar sobre Atitudes, normas culturais e valores em relação a violação de direitos humanos e violência”, publicada nesta semana pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP, sugere outro pedaço.

LEIA MAIS
“Education and quality of government” (PDF)
“Pesquisa nacional, por amostragem domiciliar, sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à violação de direitos humanos e violência” (PDF)

O estudo do World Justice Project cruzou dados da Unesco, do Barômetro da Transparência Internacional e da International Crime Victims Survey. Os autores encontraram uma forte correlação entre o grau de educação da população e a propensão a reclamar quando encontram más condições de vida ou maus-tratos por parte das autoridades.

Cidadãos mais escolarizados são mais conscientes dos seus direitos, e portanto mais propensos a registrar queixa quando sofrem crimes ou injustiças. Mesmo quando é grande a chance de as queixas não serem atendidas, o crescimento no volume de queixas tem ao menos um pouco mais de chance do que a inércia de constranger as autoridades a trabalharem direito.

Nesse estudo, o Brasil está bem no meio da escala. Falta educação, falta qualidade de governo. Mas está melhorando o acesso à educação – em 2010, 27% dos brasileiros tinham pelo menos o segundo grau completo, contra 16% em 2000. Se a escolaridade está ligada à propensão para o protesto, então é simplesmente natural que um país mais escolarizado acabe reclamando mais. Você pode não se emocionar com as causas dos protestos, lógico – é um direito tão sagrado quanto o de protestar.

Já o estudo do NEV ficou popular ontem nos noticiários. Imensamente detalhado, ele tem 322 tabelas resumindo as atitudes dos brasileiros de 11 capitais em relação a aspectos dos direitos humanos: liberdade de imprensa, liberdade de manifestação, rejeição à tortura, se apanhava na infância e o que acha de apanhar na infância. As notícias sobre o estudo, porém, focaram basicamente no aumento do apoio dos brasileiros ao uso da tortura como forma de obter informações para investigações policiais.

Uma das coisas interessantes que o estudo traz é que cresceu na sociedade a opinião de que protesto não é crime.

Nos 11 anos entre 1999 e 2010, caiu a quantidade de gente que acha que os manifestantes mais exaltados devem ser presos em passeatas de estudantes, protestos de operários, passeata de professores por melhores salários e resistência de camelôs à retirada de barracas.

Hoje, dos moradores de capitais ouvidos na pesquisa do NEV, 65% acham que a polícia não deve fazer nada em passeatas de estudantes e 68% acham que a polícia não deve fazer nada em passeatas de professores. Em 1999 ainda havia 0,2% que pensavam que era lícito à polícia atirar e matar numa passeata de estudantes. Hoje, é zero redondo.

Passeata de estudantes     2010 1999
Não fazer nada 65,4 48,2
Prender os mais exaltados sem usar armas 31,4 46,4
Atirar e matar 0 0,2
Greve de operários     2010 1999
Não fazer nada 58,2 53,1
Prender os mais exaltados sem usar armas 38 42,4
Atirar e matar 0 0
Camelôs resistentes à retirada de barracas  2010 1999
Não fazer nada 28,7 27,4
Prender os mais exaltados sem usar armas 60,9 61,9
Atirar e matar 0,2 0,2
Rebelião em um presídio 2010 1999
Não fazer nada 8 5,1
Prender os mais exaltados sem usar armas 35,2 32,6
Atirar e matar 5,4 7,9
Passeata de professores por melhores salários  2010 1999
Não fazer nada 68,1 62,2
Prender os mais exaltados sem usar armas 28,5 35,2
Atirar e matar 0,2 0
Ocupação de terras pelo MST   2010 1999
Não fazer nada 29,5 27,8
Prender os mais exaltados sem usar armas 55,7 54,6
Atirar e matar 1,1 1

A pesquisa do NEV não quebra os dados pela escolaridade dos entrevistados, infelizmente.

Passe os olhos nos dois estudos, com tempo. Vale a pena para pensar em que país temos e que país queremos ter. Eu, pessoalmente, acho legal um país em que mulher tem o mesmo direito de homem de andar sem camisa. Acho importante um país em que o cidadão possa protestar exigindo seus direitos individuais, acima de tudo quando não prejudicam ninguém. (O Facebook, porém, discorda, o que é uma lástima.)

Aproveite para contar aqui nos comentários o que você pensa a respeito.

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Você passa mais tempo no trânsito do que com sua família http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/03/voce-passa-mais-tempo-no-transito-do-que-com-sua-familia/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/06/03/voce-passa-mais-tempo-no-transito-do-que-com-sua-familia/#comments Sun, 03 Jun 2012 20:40:25 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=412

Este post é o quinto da série “Olho no Censo”, que verifica curiosidades disponíveis na riqueza de dados dos Resultados Gerais da Amostra.

Sexta, a cidade chegou ao seu recorde de congestionamento, com 295km na medição da CET e 562 km na medição da Maplink. Eu brincava com os colegas: mais gente precisa tirar o carro de casa para chegarmos logo aos 300. Mas faltou patriotismo dos motoristas para chegarmos ao número redondo e garantir mais um orgulho para São Paulo.

Hoje, Cotidiano traz uma reportagem que faz as contas: o paulistano perde 17 dias por ano no trânsito. Isso é mais que o dobro dos feriados nacionais (8), num país notório pela quantidade de feriados.

LEIA MAIS
Paulistano desperdiça 17 dias por ano no trânsito (aberto assinantes)
Planilha com os tempos de deslocamento por cidade (Google Docs)

O dado usado na reportagem de hoje vem do Censo. Segundo os resultados da amostra, no município de São Paulo quase 6% dos moradores levam mais de duas horas se deslocando para o trabalho. Para fugir de aluguéis caros, ou comprar um imóvel em conta, muita gente vai morar longe do trabalho. Aí acontece o seguinte: 15% dos moradores de Itapecerica da Serra, uma cidade ao lado de São Paulo, levam mais de duas horas para ir e voltar do trabalho.

Embora em São Paulo mais gente sofra com a tranqueira, não é só aqui que se leva tanto tempo no deslocamento: ao todo, apenas em 28 cidades no Brasil ninguém na amostra do IBGE levava mais de uma hora em seus deslocamentos. A maioria delas é de cidades pequenas na região Sul.

Não existe solução simples para o problema, muito menos existe solução que não passe por restringir a quantidade de carros em circulação. Mas os engarrafamentos são um orgulho tão grande para São Paulo que meramente pensar em tocar no assunto dos pedágios urbanos leva a reações emocionais. O ex-governador e pré-prefeitável José Serra andou dizendo outro dia que o prefeito que fizesse isso arriscaria um impeachment.

(Como todo motorista vota, e como os motoristas paulistanos adoram seus carros por mais stress que lhes causem, imagino que prometer pedágio urbano não deva atrair muitos votos mesmo. O que não significa que essa questão não deva ser debatida no seu mérito por quem deseja administrar a cidade.)

Nessas horas, é sempre fácil culpar “o governo, que não faz nada”. E pouco faz mesmo. Mas será que a responsabilidade é toda só dele? Ou só de um deles? Será que a gente não tem um pouco de responsabilidade em reduzir o nosso próprio sofrimento também?

Não tenho solução no bolso para a cidade, e mandem me internar se um dia eu disser que tenho. Desconfio sempre quando alguém tem UMA solução pronta na ponta da língua para um problema complexo (“a solução é a bicicleta”, “a solução é o metrô”, “a solução é…”). Só sei que não se chega a uma situação caótica assim sem um esforço coletivo e suprapartidário entre diferentes esferas do governo, empresas e cidadãos. Minha distribuição das responsabilidades:

  • Governo federal: incentiva a venda de carros e historicamente colaborou pouco com a expansão de meios de transporte público mais adequados às grandes cidades brasileiras.
  • Governo estadual: é o responsável pelo metrô, um dos grandes desafogadores do trânsito, mas demorou tanto a expandi-lo que qualquer pouca expansão que crie hoje em dia acaba lotando rapidinho.
  • Governo municipal: permite estacionamento em praticamente todas as ruas, o que reduz o espaço para circulação dos carros que estão na rua e ao mesmo tempo estimula o motorista a circular, porque dependendo não terá custo para parar. Proibiu a circulação dos fretados em parte da área urbana, incentivando trabalhadores a ir de carro. Expandiu praticamente nada os corredores de ônibus.
  • Empresas: início e fim de expediente, na maior parte dos casos, se concentram sempre nas mesmas horas, o que concentra a demanda pelas ruas (já sobrecarregada). Construtoras têm uma responsabilidade extra pelo engarrafamento. Há alguns anos, a Folha noticiou que novos empreendimentos imobiliários na cidade eram feitos sem levar em conta a capacidade das ruas do entorno, causando engarrafamentos até na garagem do prédio. Mais recentemente, o jornal mostrou que os empreendimentos trava-trânsito se concentram na área nobre de São Paulo.
  • Cidadão: mora longe do trabalho, ou trabalha longe de casa. Pode não ter muita escolha nisso, nem muita escolha nos horários, mas tem escolha em como ir para o trabalho. Lógico que na maior parte do tempo o cidadão é vítima desse quebra-cabeça cruel que é o trânsito. Mas ao mesmo tempo quem está preso no trânsito é parte do problema. E, se você pega o carro até para ir à esquina, certamente você é uma engrenagem importante dele.

Cada um tem sua forma de viver com isso, equilibrando do melhor jeito que consegue as bolas que caem no seu colo.

No Twitter, o @wilerson me contou que se mudou para mais perto do trabalho quando fez a conta de que perdia um mês por ano no trânsito. O @kadu_nogueira contou que seus colegas o odeiam porque mora a 100 metros do escritório. O @yusana trabalhou por um ano no mesmo prédio onde vive – mas engordou 20 quilos no período.

Eu nunca quis aprender a dirigir e faço questão de morar perto do trabalho (ou trabalhar perto de casa). Li a frase do título deste post pichada num muro da Consolação, há alguns anos, e nunca me saiu da cabeça. Resume bem o que eu penso da mera ideia de ficar preso no trânsito todo dia.

Conte aqui nos comentários o seu jeito pessoal de lidar com esse problema.

OLHO NO CENSO:
Bem casado é quem bem vive (28.abr)
No trabalho, menos crianças e mais velhos (1.mai)
Tá em casa (4.mai)
Botando as mães no meio (12.mai)
Você passa mais tempo no trânsito do que com sua família (3.jun)

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Repetir número na Mega é fraude? Dificilmente. http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/29/megasena/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/29/megasena/#comments Tue, 29 May 2012 20:30:26 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=389

A Mega-Sena acumulou no último sorteio, e hoje pela manhã já havia filas na lotérica perto de casa. Segundo a própria Caixa Federal, a chance de acertar seis números na Mega-Sena é de uma em 50 milhões, mas quem joga tem prazer em comprar por R$ 2 o sonho de um dia acordar rico. Exatamente por isso o tema mexe com a imaginação popular.

Recebi cinco vezes nas últimas duas semanas, por e-mail e pelo Facebook, uma corrente dizendo que a Mega-Sena foi fraudada (“A casa caiu pra Caixa”, diz o título). Uma pesquisa no Google mostra que essa corrente circulou várias vezes, em 2010, 2011 e agora neste ano. A suposta evidência apresentada: em 2010, em dois concursos seguidos, quatro dos seis números sorteados foram os mesmos. Como de praxe, os autores da corrente acusam a imprensa de uma grande conspiração para ocultar o fato. Claro, a culpa é sempre nossa.

É possível uma coincidência grande assim de números acontecer sem que seja fraude? É muito raro, mas pode acontecer. Se for uma vez em muitas, tudo bem. Se for frequente, vale a mordida da pulga na orelha.

Como se checa isso?

Antes de mais nada, baixei os dados de todos os concursos da Mega-Sena. Estão disponíveis no site da Caixa.

Então, para ver quantas vezes aconteceram situações assim estranhas, consultei o mestre de Excel Paulo Haddad, com quem tive aulas de Excel avançado em 2000. Paulo é co-autor do livro “Crie Planilhas Inteligentes com Office Excel 2003”, e escreveu uma fórmula comparando os resultados de cada um dos quase 1.400 concursos com o resultado do concurso imediatamente anterior.

O que descobrimos:

  • Em quase metade dos concursos há a repetição de pelo menos um número. Foram apenas 721, dentre as 1.394 disponíveis, as extrações em que nenhum número se repetiu em relação ao jogo anterior.
  • Repetir dois números de um concurso para outro é quase corriqueiro. Aconteceu 111 vezes desde o começo da Mega-Sena, em 1996 – ou quase oito vezes a cada 100 extrações. A mais recente foi em 12 de maio.
  • Por 11 vezes, foram repetidos três números de um concurso para o seguinte. Isso aconteceu em 1999, 2001, 2003, 2007, 2008, 2009 e 2011. Acontece quase OITO vezes a cada MIL extrações.
  • Uma vez só, houve a repetição de quatro números de um concurso para o seguinte. É o caso citado na corrente, de 2010. Foi uma vez em quase 1.400 concursos.
  • Uma vez só, foram repetidos cinco números de um concurso para o seguinte. Foi em 31 de outubro de 2001. Foi uma vez em quase 1.400 concursos.

Há números que saem mais do que outros, mas sempre dentro da distribuição normal. Em média, cada uma das 60 dezenas saiu pouco mais de 139 vezes. O desvio-padrão, que mede o quanto as frequências costumam variar em torno da média, é de 11,4 vezes.

Numa distribuição normal, 68% dos casos estão um desvio-padrão acima ou abaixo da média. Ou seja, dois terços dos números devem ter saído entre 128 e 150 vezes.

Dois desvios-padrão acima ou abaixo da média abarcam 95% dos casos possíveis – ou seja, entre 116 e 161 vezes. Três desvios (105 a 173 vezes) abarcam 99% dos números. Mais do que isso são pontos fora da curva.

Nenhum dos 60 números da Mega se repetiu mais do que três desvios-padrão acima da média. Nenhum também se repetiu menos do que três desvios-padrão abaixo da média. O máximo foi 171 vezes (número 5) e o mínimo foi 111 vezes (número 26). Essa distribuição pode variar ao longo do tempo. Se você pegar um ano específico, o “ranking” deve ser outro se a distribuição for realmente ao acaso.

Ainda assim, tudo aparentemente está normal. Repetições são curiosas, mas se forem raras são apenas isso. Pode haver outros tipos de fraude, mas a repetição de números uma vez não é, por si, evidência disso.

Num próximo post, vamos ouvir um estatístico sobre as probabilidades das loterias e relembrar casos conhecidos de fraude. Fique ligado. Enquanto isso, conte aqui nos comentários: você joga em loterias? Não joga? Por quê? Quais as suas favoritas? De quais você desconfia?

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Onde estão os riscos nos aviões? No sexo do piloto é que não é http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/23/risco-de-avioe/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/23/risco-de-avioe/#comments Wed, 23 May 2012 13:41:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=365 Foto: Smithsonian Institute

Um passageiro da Trip Linhas Aéreas foi expulso do voo na sexta-feira depois de se recusar a viajar num avião que tivesse uma mulher como piloto. Nos comentários da notícia publicada ontem pela Folha.com, muitos leitores fizeram comentários machistas como “nunca vi fogão com asas” e outros do gênero.

Em pleno 2012, não devia ser novidade uma mulher no manche em qualquer país onde mulher não seja obrigada a andar de burca. Há registros de mulheres pilotando coisas que voam desde que Elisabeth Thimble voou com um balão de ar quente, em 1784. Na década de 1920, quando minha avó era criança, Amelia Earhart – a simpática moça da foto que ilustra este post – não apenas usava calça como também cruzava o Atlântico pilotando aviões. Se bobear, até votava e trabalhava fora, para assombro dos machistas de 2012.

É interessante a maneira como muita gente pensa em riscos sem pensar em proporções. Há um ano, eu embarcava num avião em Brasília. Quando estávamos subindo a escadinha, uma outra passageira se apavorou.

“Isso aí é um Fokker 100? Ah, essa não. Foi esse mesmo avião que estava no acidente da TAM. Nunca mais compro passagem desta empresa aérea.”

Houve dois acidentes com Fokkers da TAM no Brasil, em 1996 e 2001. Ao todo, no mundo, houve apenas 9 acidentes nesse modelo de aeronave (dos quais só três com mortes). O de 1996, com 99 vítimas, foi o pior de todos – elas são mais da metade das 178 mortes nesses acidentes com Fokker. É bastante? Qualquer morte é muita coisa. Mas a questão é de manter uma noção de risco proporcional.

VEJA DADOS
461 Acidentes no Brasil – Aviation Safety Network (banco de dados)
Acidentes de avião por causa contribuinte (Aviation Safety Network)

Quase perguntei que modelo de carro ela dirige, pra tentar levantar casos de acidentes com ele. Tenho certeza de que houve mais acidentes ou ao menos bem mais mortes.

Se você quer realmente ver que fatores colaboram para um acidente de avião, recomendo dar uma longa fuçada no banco de dados da Aviation Safety Network. Vale a pena. O link está aí em cima.

O canadense Dan Gardner escreveu um livro precioso. Seu título é “Risco – a ciência e a política do medo“. Logo no prólogo, Gardner conta uma das reações ao 11 de Setembro. Com medo de voar, muita gente passou a pegar seu carro e ir para a estrada.

“Só que ninguém falou a respeito do aumento explosivo das viagens de automóvel. Por que falariam? Era secundário. Havia ameaças mortais com que se preocupar. Uma coisa que nenhum político mencionou foi que as viagens aéreas são mais seguras do que as viagens terrestres. Sensivelmente mais seguras – tanto que a parte mais perigosa de um típico voo comercial é o percurso até o aeroporto. Na verdade, a diferença em termos de segurança é tão grande que os aviões continuariam sendo mais seguros que os carros mesmo que a ameaça de terrorismo fosse inimaginavelmente pior do que ela realmente é: um professor americano calculou que, mesmo que os terroristas estivessem sequestrando e derrubando um jato de passageiros por semana nos Estados Unidos, uma pessoa que voasse uma vez por mês durante um ano teria apenas uma chance em 135 mil de morrer em um sequestro – um risco pequeno se comparado à chance anual de uma em 6 mil de morrer em um acidente de automóvel.”

Isso me lembra em boa parte argumentos que ouço sempre que defendo que me faz bem não ter carro. Eu não tenho por opção, por pesar vários bons motivos: um carro a mais na rua é um carro a mais engarrafando a rua; transporte público (ônibus, metrô e até táxi) tá na rua pra isso mesmo; não dirigindo, posso aproveitar o tempo dos deslocamentos pra atualizar as leituras. Vai ter dias como hoje, em que o metrô para, o ônibus entope e as ruas travam. Mas na média prefiro o transporte público.

“Ah, mas eu prefiro gastar mais pra ter o meu carrinho a ficar pegando ônibus e ser assaltado”, já ouvi. Ora, eu ando de ônibus desde criança. Nunca fui assaltado em ônibus. Talvez um dia seja, embora prefira não – há gente que é, sim, mas não é todo mundo e nem é todo dia.

Eu não conheço ninguém que tenha sido assaltado no ônibus, mas conheço quem tenha sido assaltado no carro. Conheço quem tenha tido o carro roubado – o que é um prejuízo maior do que ter a carteira roubada no ônibus. E conheço mais gente que sofreu acidente de carro do que de ônibus.

No limite, precisamos conviver com a noção de que só não corre risco quem não vive. Dá pra avaliar riscos racionalmente, com algum bom senso e um pouco de pesquisa. Riscos avaliados podem ser reduzidos. O que não dá é pra deixar o medo mandar em nós.

No filme “Elsa & Fred“, há uma frase que resume bem isso. Elsa, uma viúva divertida e trapalhona, conhece Fred, um viúvo quietão e hipocondríaco. Acho que a frase vem numa cena em que Fred diz que não pode comer uma sobremesa por causa do colesterol. Elsa diz:

– No tienes miedo de morirte; vos tenés miedo de vivir.

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Olho no Censo (4): Botando as mães no meio http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/12/olho-no-censo-4-botando-as-maes-no-meio/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/12/olho-no-censo-4-botando-as-maes-no-meio/#comments Sat, 12 May 2012 15:00:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=318

Este post é o quarto da série “Olho no Censo”, que verifica curiosidades disponíveis na riqueza de dados dos Resultados Gerais da Amostra.

Sim, amanhã é o dia das mães e todo mundo quer fazer sua homenagem. A revista Forbes fez um ranking das mães mais poderosas do mundo (com Hillary Clinton em primeiro lugar e Dilma Rousseff em segundo). O Afinal de Contas, claro, vai olhar os dados do Censo.

(E ilustrar com esta linda foto da jornalista Kalu Brum, que organizou um “mamaço” num centro cultural de São Paulo há um ano, depois de ter essa foto vetada por obscenidade no Facebook.)

Uma das variáveis importantes que a amostra do Censo leva em conta é a quantidade de mulheres com mais de 10 anos que tiveram filhos. Em média, no Brasil, 62% das mulheres têm filhos. Nas tabelas disponíveis no site, não dá para ver por faixa etária. Mas é possível ver a proporção de mulheres com filhos.

VEJA OS DADOS
Planilha com dados nacionais (Google Docs)
Todas as tabelas da amostra do Censo (IBGE)

Um número muito alto pode significar que as mulheres costumam ter filhos mais cedo num determinado lugar. Ou que menos mulheres trocam a maternidade pela carreira – ainda que a carreira religiosa. Ou alguma outra coisa que não dá para avaliar só olhando os números. Não dá para ter qualquer certeza sem olhar os dados mais detalhados.

Em 406 cidades brasileiras, mais de 7 em cada 10 mulheres tiveram filhos. Elas estão em 14 Estados. Geralmente são cidades de poucos habitantes.

No Goiás de “Dois Filhos de Francisco”, em quase 4 de cada 10 cidades haverá mais de 7 em cada 10 mulheres recebendo parabéns amanhã. No Rio Grande do Sul, duas cidadezinhas – Porto Vera Cruz e Coronel Pilar – terão quase oito em cada dez mulheres recebendo os parabéns.

UF Cidades com mais de 70% das mulheres com filhos Total cidades % de cidades com mais de 70% de mulheres com filhos
 GO 91 246 37%
 RS 93 497 19%
 PR 58 399 15%
 TO 19 139 14%
 SC 33 293 11%
 SP 68 645 11%
 MT 13 141 9%
 MS 7 78 9%
 RO 2 52 4%
 PI 5 224 2%
 PA 2 143 1%
 MG 11 853 1%
 ES 1 78 1%
 BA 3 417 1%

E os filhos por mulher?

No Brasil, a média é 1,86 filhos por mulher – essa é a medida internacionalmente aceita. Só que essa conta leva em consideração inclusive as mulheres que não tiveram filhos. Considerando apenas as mulheres que tiveram filhos, a média brasileira é de 3,1 filhos por mulher.

Você pode dizer: “ah, mas eu sou filho único”. Outro leitor dirá que tem 4 irmãos. Some a prole da sua mãe à prole da mãe do outro leitor, divida por dois e teremos aí, grosseiramente, a média de três filhos por mulher.

Em 66 cidades, a média é de 5 filhos ou mais por mulher que teve filhos. Se colocarmos as mulheres sem filhos nessa conta, não passam de 3,5 por mulher. Onde estão essas cidades? Especialmente no Nordeste e Norte do Brasil.

UF Municípios com média maior que 5 filhos por mulher que teve filhos Total de municípios % dos municípios do Estado
 AL 12 102 11,8%
 AC 2 22 9,1%
 PB 14 223 6,3%
 AP 1 16 6,3%
 MA 10 217 4,6%
 PE 8 185 4,3%
 SE 2 75 2,7%
 AM 1 62 1,6%
 TO 2 139 1,4%
 CE 2 184 1,1%
 RN 6 767 0,8%
 BA 3 417 0,7%
 PA 1 143 0,7%
 PI 1 224 0,4%
 MG 1 853 0,1%

DESAFIO: Dia das Mães é dia de festa, não de tristeza. Mas a partir  dos dados dessa planilha, usando aritmética muito simples, você pode descobrir qual a média de filhos que morreram por mulher que teve filhos. Há uma cidade no país em que em média cada mulher que teve filhos teve quase seis e perdeu quase dois. Você consegue descobrir qual é?

E o que mais você consegue descobrir de interessante nesta planilha? Conte aqui na caixa de comentários – agora integrada ao Facebook.

OLHO NO CENSO:
Bem casado é quem bem vive (28.abr)
No trabalho, menos crianças e mais velhos (1.mai)
Tá em casa (4.mai)
Botando as mães no meio (12.mai)

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Olho no Censo (3): Tá em casa http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/04/olho-no-censo-3-ta-em-cas/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/05/04/olho-no-censo-3-ta-em-cas/#comments Fri, 04 May 2012 20:45:42 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=287

Este post é o terceiro da série “Olho no Censo”, que verifica curiosidades disponíveis na riqueza de dados dos Resultados Gerais da Amostra.

No último final de semana, a revista Sãopaulo publicou uma reportagem do Alexandre Aragão e da Patrícia Britto (com fotos do grande Lucas Lima, também autor da foto do meu perfil) sobre os 30 anos da Rodoviária do Tietê. O local já foi o principal ponto de chegadas e partidas de migrantes a São Paulo. Foi lá que eu desembarquei quando vim pela primeira vez, em 1999, para fazer o teste para ser trainee da Folha.

VEJA OS DADOS
Planilha com dados nacionais (Google Docs)
Todas as tabelas da amostra do Censo (IBGE)

LEIA MAIS
Tietê trintão” (assinantes)
Tordesilhas no século 21” (no blog)

Hoje, a rodoviária anda bem mais vazia, em parte pela concorrência com passagens de avião por vezes mais baratas do que as de ônibus. Em parte, também, isso ocorre pelo fato de São Paulo receber menos migrantes do que antes. Quando eu cheguei a São Paulo, quase um em cada 4 moradores do Estado havia nascido fora. Hoje, somos pouco mais de um a cada 5.

O Brasil está ficando mais local, segundo os dados da amostra do Censo. Em 1991, 15,36% dos brasileiros moravam fora do Estado onde nasceram. Em 2010, eram 14,54%.

Observando os Estados que mais reduziram seu percentual de “estrangeiros”, a impressão que dá é que os desbravadores de novas fronteiras dentro do Brasil deram à luz uma geração de filhos locais.

Brasília, que costumava ser uma cidade de migrantes, tem cada vez mais habitantes nascidos e criados lá – ainda que de pais que nasceram fora. Em 1991, 58% dos moradores de Brasília eram de fora. Hoje, são 46,23%. Os brasileiros pararam de ir para Brasília? Duvido – estão aí os concursos públicos e os cargos comissionados no Congresso que não me deixam acreditar nisso. Mas quem foi pra lá e ficou teve filhos brasilienses.

Esse fenômeno também é forte em Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – Estados da fronteira agrícola, colonizados durante os anos 70 e 80 do lado de lá de Tordesilhas. Em Estados que tradicionalmente atraíam migrantes em busca de oportunidades econômicas, como Rio de Janeiro e São Paulo, a motivação pode ser ligada à economia mesmo.

1991 2000 2010 variação em pontos percentuais  1991-2010
RO 62,71% 52,70% 43,66% -19,06
DF 58,64% 53,35% 46,23% -12,41
MT 45,90% 42,62% 37,92% -7,98
MS 32,27% 28,34% 25,99% -6,28
RJ 19,15% 18,15% 14,48% -4,67
PR 21,44% 19,31% 17,04% -4,41
RR 41,74% 47,16% 38,51% -3,24
PA 18,42% 16,99% 15,21% -3,22
SP 23,88% 24,77% 20,69% -3,19
MA 9,40% 8,15% 7,71% -1,69
Brasil 15,36% 15,76% 14,54% -0,82
AC 11,50% 11,64% 10,72% -0,77
TO 31,94% 32,46% 31,57% -0,36
PE 6,76% 6,82% 6,74% -0,02

OLHO NO CENSO:
Bem casado é quem bem vive (28.abr)
No trabalho, menos crianças e mais velhos (1.mar)
Tá em casa (4.mar)

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Olho no Censo (1): Bem casado é quem bem vive http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/28/olho-no-censo-1-bem-casado-e-quem-bem-vive/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/28/olho-no-censo-1-bem-casado-e-quem-bem-vive/#comments Sat, 28 Apr 2012 17:47:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=256

Este post é o primeiro da série “Olho no Censo”, que verifica curiosidades disponíveis na riqueza de dados dos Resultados Gerais da Amostra.

“Quando você vai parar de enrolar sua mulher?” é uma pergunta cada vez mais comum no Brasil, a julgar pelos dados da amostra do Censo divulgados ontem. Mais de um terço dos casais no Brasil vivem como Angelina Jolie e Brad Pitt viveram de 2005 até este ano.

Nos dez anos entre os dois últimos Censos, subiu de 28,6% para 36,4% o número de casais que vive no que o IBGE chama de “união consensual”. Trata-se daquele tipo de união que você conhece como “juntado” e Silvio Santos costumava descrever como “tico-tico no fubá”.

VEJA OS DADOS
Planilha com dados nacionais (Google Docs)
Todas as tabelas da amostra do Censo (IBGE)

LEIA MAIS
Mortalidade infantil cai pela metade em 10 anos, diz IBGE” (Para assinantes)

Em quinze Estados do Brasil, a situação é mais comum do que a de casar só em cartório ou só na igreja. Em cinco Estados (Amapá, Roraima, Pará, Amazonas e Acre), é mais comum viver junto do que qualquer outra formalização do casório. O campeão é o Amapá, onde 63% dos ouvidos pelo Censo disseram viver assim.

O Estado mais conservador? Minas Gerais. Lá, 58% dos ouvidos casaram de papel passado e bênção do padre, tudo como manda a tradição.

Este é o mapa devidamente colorido, do amarelo (25% a 35% em união consensual) ao marrom (mais de 55% em união consensual):

E esta é a versão interativa desse mapa. Clique nos Estados e veja casamentos e uniões consensuais. Era para ser o mesmo mapa, mas ainda não descobri como fazer as cores do Fusion Tables entrarem no WordPress. Algum leitor sabe?

[google-map-v3 width=”500″ height=”500″ zoom=”12″ maptype=”roadmap” mapalign=”center” directionhint=”false” language=”default” poweredby=”false” maptypecontrol=”true” pancontrol=”true” zoomcontrol=”true” scalecontrol=”true” streetviewcontrol=”true” scrollwheelcontrol=”false” draggable=”true” tiltfourtyfive=”false” addmarkermashupbubble=”false” addmarkermashupbubble=”false” kml=”https://www.google.com/fusiontables/exporttable?query=select+col2%3E%3E0+from+3706265+&o=kmllink&g=col2%3E%3E0″ bubbleautopan=”true” showbike=”false” showtraffic=”false” showpanoramio=”false”]

Na próxima vez em que lhe perguntarem quando vai deixar de enrolar sua (seu) amada (o), indique este post e esta reportagem publicada em fevereiro pela revista Sãopaulo, mostrando o tamanho da fila de espera para casar na cidade.

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O crime em São Paulo http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/o-crime-em-sao-paulo/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/o-crime-em-sao-paulo/#respond Thu, 26 Apr 2012 17:05:07 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=217 Seguranca ao lado de resquicios de sangue no interior do predio da Defensoria Publica do Estado de Sao Paulo, nesta quarta-feira, 25 de Abril de 2012. Um homem armado com uma faca e um martelo invadiu o predio no centro da cidade e, segundo a Policia, feriu seis pessoas, entre elas dois segurancas. (Foto: Gabo Morales/Folhapress)Cotidiano publica hoje reportagem do Afonso Benites, Rogério Pagnan e Reynaldo Turollo Jr. sobre o aumento da violência nas estatísticas de São Paulo.

A polícia diz que o grande aumento dos homicídios em março se deve ao fato de março do ano passado ter tido um índice excepcionalmente baixo (sem que se saiba exatamente por quê).

Diz o delegado que o mês do ano passado foi um “ponto fora da curva”. É retórica, apenas. Ao ler a aspa do delegado, entenda-se: “março de 2011 foi bem mais tranquilo do que se esperava”.

Um ponto fora da curva tem que ser bem mais raro do que a diferença detectada. Existe como calcular se um caso específico é um ponto fora da curva ou não (saiba mais), mas para isso seria preciso ter uma série histórica muito maior, o que não é o caso.

LEIA MAIS
Violência cresce em SP no 1º trimestre” (para assinantes)
Bairro carente concentra roubo de carros” (para assinantes)
Estatísticas de criminalidade em São Paulo (site da polícia)
Planilha da Folha (Google Docs, para baixar)

No jornal impresso, podemos destacar os dados mais importantes e podemos fazer uma arte – como a da página C3 – mostrando como um ou dois crimes se distribuem no mapa. Temos o limite do espaço.

Só que o grande barato da internet é que ela permite ao leitor chegar às informações no detalhe que desejar, caso a Redação assim se organize. A Folha tem procurado fazer isso, no caso dos crimes. Os repórteres, como o Afonso Benites, levantam os dados; depois, a equipe da Folha.com e da Arte os organiza na Web para facilitar a vida do leitor.

Todo mês, é o craque André Monteiro quem atualiza o Radar da Violência, que organiza no mapa de São Paulo os dados dos crimes da cidade. Os de março saíram ontem. A interface, projetada pelo mestre do Flash Ariel Tonglet, permite que o leitor filtre os dados por crime, delegacia e mês, para conhecer melhor os padrões do crime onde mora. Clique e conheça:

Coloquei no Google Docs a planilha completa para você poder baixar e fazer suas próprias análises. Já resumi por alguns crimes.

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Celular: a Anatel conhece as antenas do seu prédio? http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/19/celular-a-anatel-conhece-as-antenas-do-seu-predio/ http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/04/19/celular-a-anatel-conhece-as-antenas-do-seu-predio/#comments Thu, 19 Apr 2012 13:06:07 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/16244531.jpeg http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/?p=169 Cotidiano publica hoje uma reportagem do Eduardo Geraque e do Filipe Oliveira sobre uma ação da prefeitura de São Paulo contra operadoras de telefonia que instalam antenas irregulares de celular em prédios da cidade. Segundo a prefeitura, três em cada quatro das 2.677 antenas na cidade estão irregulares.

Os prédios topam porque as operadoras pagam bem; já as operadoras não comentam por não terem sido oficialmente citadas na ação.

SAIBA MAIS
Ação quer o fim de ‘antena pirata’ de celular (assinantes)
Anatel – Cadastro de estações radiobase
Planilha – Antenas de celular em São Paulo (baixe)

A Anatel publica em seu site uma lista de todas as antenas que tem cadastradas em seu sistema. Estão lá as datas da primeira e da mais recente licença, bem como o endereço de instalação. Constam cerca de 1.200 antenas além das informadas pela prefeitura (mas há duas operadoras além das três informadas à reportagem – a Unicel e a Nextel).

O que você consegue descobrir nesses dados? Seu prédio tem antena mas ela não aparece na lista? Conte aqui.

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