Reprodução/”Pink Floyd – The Wall”
Neste ano tem campanha eleitoral nos municípios. Estão em discussão as nominatas e o quem-apoia-quem. Questões de política pública, como a educação, virão mais adiante, especialmente na forma de horas de aula e merenda nas escolas.
Nos Estados Unidos, onde também tem eleição, existe um debate interessante sobre o conteúdo do currículo. Desde 1956, uma taxonomia das habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes inclui “Habilidades Superiores de Raciocínio”. Significa ensinar estudantes não apenas a ler, mas também a analisar e questionar o que leem. Habilidades analíticas, enfim, que são o que no discurso todo mundo quer que os estudantes desenvolvam.
Aí vem o Partido Republicano do Texas e lança seu programa partidário. Muito detalhado, mais específico do que qualquer um que você verá no Brasil. Na página 11, eles entram no mérito da educação (baixe aqui o PDF). E se posicionam assim:
“Nos opomos ao ensino de Habilidades Superiores de Raciocínio, habilidades de raciocínio crítico e programas semelhantes que são simplesmente um novo rótulo para a educação baseada em resultados, que se concentra na modificação do comportamento e tem o propósito de desafiar as crenças do estudante e minar a autoridade dos pais.”
Os republicanos do Texas, amplamente conservadores, são favoráveis ao ensino do criacionismo nas escolas – ou seja, da noção bíblica da origem do universo, em contraposição à noção científica. Lembre da mãe do Sheldon em Big Bang Theory.
O que isso tem a ver com o Brasil?
Hoje, saíram os dados do Censo sobre a religião dos brasileiros. Segundo o Censo, nos últimos 30 anos os evangélicos cresceram de 6,6% para 22,2% da população. Nada contra. Meu próprio grupo no ecossistema da fé, o dos sem religião, aumentou para 8,5% . Os evangélicos são um eleitorado mais apetitoso para os políticos do que os incréus.
O problema é que os políticos das bancadas evangélicas costumam manifestar noções mais ou menos parecidas com as dos republicanos do Texas. Ainda que aqui sejam aliados da, digamos, esquerda. (Na prática, são aliados de quem estiver no governo.)
Noves fora a sinceridade do programa partidário, que você não verá por aqui de jeito nenhum, existe um movimento forte de políticos evangélicos para incluir o ensino do criacionismo nas escolas, meio que forçando a religião das crianças. Metade das escolas brasileiras conta com ensino religioso, atualmente, e alunos ateus chegam a ser perseguidos por não rezar na aula.
O tema entra no debate da eleição municipal em São Paulo na não-questão do “kit gay“, principal ponto de conflito entre a bancada evangélica e o candidato Fernando Haddad. Ainda ontem, estavam debatendo uma proposta de “cura gay”. Algo tão sem fundamento quanto qualquer proposta disparatada de “cura negra”. (Eu sei, melhor não dar ideia.)
Imagina se debatessem na eleição brasileira o ensino de habilidades de raciocínio crítico, que é uma bela aposta na cura da ignorância.