O craque Evandro Spinelli, de Cotidiano, faz um alerta de utilidade pública:
“Atenção, srs. jornalistas, a cidade de São Paulo não tem o 3º maior orçamento do país, como todo mundo fala. Tem o 6º. Eu já tinha escrito isso no Twitter em 2 de abril. Repito hoje porque tem a mesma informação errada em jornal. Os cinco maiores orçamentos públicos brasileiros são os da União e dos Estados de SP, RJ, MG e RS”
É verdade. São Paulo já foi o terceiro maior orçamento do país, mas a economia é dinâmica e as coisas mudam. (Já tive ocasião de dizer aqui antes: nunca levo rankings a sério por causa disso.)
De qualquer maneira, o que era uma medida ficou como clichê. E é fácil isso acontecer com números, sejam reais ou inventados. Ainda mais quando são números que são mais fáceis de tirar da ponta da língua do que de uma planilha.
O Brasil já teve “90 milhões em ação”, mas a população cresceu. E muito.
O ser humano usa só 10% de sua cabeça animal, como cantava Raul Seixas? Mito.
Para cada R$ 1 que entra no caixa-um das campanhas, entra mais R$ 1 no caixa-dois? Impossível verificar, porque caixa-dois não é contabilizado. Que há muito caixa-dois, há; mas deve variar absurdamente de campanha pra campanha, dependendo especialmente das chances que os candidatos corruptos têm de favorecer os potenciais corruptores. Essas chances não são iguais – tem mais chance um candidato competitivo do que um azarão. E a maior parte dos candidatos é formada por azarões.
E lembra do bebê 7 bilhões? O que nasceu na hora exata em que as projeções disseram que viraria o hodômetro? Pois é: impossível determinar qual é. Na dúvida, cada país faz seu marquetim. Pra quê? Pra nada.
Não confio em índices de influência no Twitter. A maior parte deles leva em conta coisas superficiais. Outro dia, a Agência France-Presse criou um serviço que mostra twitters de autoridades, e a autoridade brasileira mais cotada era a presidente Dilma Rousseff. Que não usa o serviço desde que foi eleita. Sem falar que, se Rafinha Bastos é mesmo o homem mais influente do Twitter, seu novo programa deve ter uma audiência fabulosa.
Neste ano, você vai ouvir todo tipo de clichê numérico saindo da boca de candidatos no horário eleitoral e nos debates na TV. Cabe a cada um duvidar e checar – e este blog vai tentar apontar ferramentas para isso.
Ah, sim: não podemos esquecer do clichê dos milhões de participantes anunciados todo ano pela Parada Gay. No ano passado, a Folha fez as contas e viu que teria de haver até 18 pessoas por metro quadrado para caber tanta gente. Neste ano, o Datafolha foi a campo e descobriu apenas 270 mil.
Qual o seu clichê numérico favorito? Qual você já ouviu mas gostaria de checar?
Conte aqui nos comentários.
EDITADO: Já chegaram algumas colaborações de colegas.
Mestre Evandro Spinelli contribuiu com esta:
(Afirma-se que) “A OMS considera epidemia quando há mais de dez homicídios por 100 mil habitantes. Esse é um clichê numérico que vem até com fonte. Mas a fonte (a OMS, no caso) nunca falou isso.”
Do grande Filipe Coutinho, da sucursal de Brasília:
“2 é lateral direito, 8 é volante, 10 é meia, 9 é centro-avante, mas Bebeto é 7 e Romario é 11”
A próxima é sua. Estou aguardando.