Afinal de Contas

por Marcelo Soares

 -

Marcelo Soares escreve sobre dados e o que eles podem revelar

PERFIL COMPLETO

Publicidade

Três grandes hospitais de São Paulo têm antena de celular

Por Marcelo Soares

Logo no começo do blog, eu publiquei um banco de dados mostrando a localização de todas as antenas de celular de São Paulo. Há pouco tempo, o repórter Alexandre Aragão fuçou o material e descobriu que há antenas de celular instaladas no Hospital das Clínicas, no Albert Einstein e no Sírio-Libanês. Eles são os pontos azuis no mapa. Aproxime o mapa para ver melhor a localização.

O problema: como as antenas emitem radiação, elas devem por lei manter distância de pelo menos 50 metros de locais onde haja doentes.

SAIBA MAIS
Ação quer o fim de ‘antena pirata’ de celular (assinantes)
Anatel – Cadastro de estações radiobase
Planilha – Antenas de celular em São Paulo (baixe)

Veja abaixo o que o Alexandre apurou e o que os hospitais responderam.

Por Alexandre Aragão

Três grandes instituições médicas da capital paulista têm antenas de telefonia celular instaladas em suas dependências, de acordo com o banco de dados da Anatel. Uma lei municipal exige que esse tipo de equipamento fique a um raio de pelo menos50 metrosde estabelecimentos que recebem pessoas doentes.

O Hospital das Clínicas, o Hospital Albert Einstein e o Hospital Sírio-Libanês reagem de modos diferentes quando perguntados sobre o assunto.

No primeiro caso, a instituição admite a presença da antena, mas afirma que ela se encontra “em um local afastado da área hospitalar”. Os responsáveis não responderam se o estabelecimento possui contrato de aluguel com alguma operadora –situação comum em antenas instaladas em locais privados.

O Albert Einstein, por sua vez, diz que “constatou-se que não há interferência da cobertura de telefonia celular com o funcionamento dos equipamentos do hospital”, mas não informa se há ou não antena em seu terreno. No Sírio-Libanês, apesar de a presença da antena ser apontada pelo banco de dados oficial da Anatel, a direção não comenta o assunto.

Claro e Vivo, apontadas pela Anatel como proprietárias dos equipamentos, também não quiseram se pronunciar.

A situação irregular dessas antenas pode representar risco ainda maior para pessoas internadas nas unidades. “A fragilidade do corpo humano em um hospital é muito grande”, diz a advogada Margarete Padueli, autora de uma tese de doutorado na Faculdade de Medicina da USP concluída neste ano sobre a situação das antenas na cidade. “O efeito cumulativo da radiação durante os dias de internação pode agravar a situação.”

 

*MAIORIA IRREGULAR*

Segundo números da PGM (Procuradoria Geral do Município), cerca de 65% das pouco mais de 4.000 antenas instaladas em São Paulo são irregulares. O dado faz parte de ação civil pública contra as empresas.

Há desde equipamentos em locais proibidos, como hospitais, até desrespeito à distância mínima exigida entre duas antenas, de100 metros.

Em maio, o TJ (Tribunal de Justiça) do Estado concedeu liminar proibindo a instalação de novos equipamentos até que a questão seja resolvida. A empresa que fizer alguma instalação deverá pagar multa diária de R$ 10 mil por cada nova antena.

Mesmo antes de a liminar ser concedida, a legislação já estabelecia uma multa de R$ 100 mil por antena irregular em caso de descumprimento.

Até agora, somente a Vivo procurou a prefeitura em busca de acordo judicial. “Os termos ainda estão sendo discutidos”, diz a procuradora Liliana Marçal. “Mas a prefeitura não transige no sentido de não instalarem antenas sem prévia licença.”

A empresa, por sua vez, pede que o trâmite para obtenção da licença seja agilizado. “Nossa proposta para isso é que haja um processamento eletrônico”, diz Liliana.

O principal motivo para que as leis imponham restrições à instalação de novas antenas é o risco à saúde pública. Em2011, aOMS (Organização Mundial da Saúde) reclassificou a radiação produzida por antenas de telefonia para a categoria 2b –“possivelmente cancerígeno”.

“São substâncias em que há alguma evidência de relação com o aparecimento de tumores”, explica o médico Olavo Feher, do Instituto do Câncer. “Um dos fatores que parece aumentar o risco é a proximidade com a fonte da radiação.”

A região da avenida Paulista, por exemplo, deveria ter medidores fixos. Para Margarete Padueli, da USP, a quantidade de antenas em distâncias próximas transformam a área “em um micro-ondas”.

Segundo a procuradora Liliana Marçal, antenas instaladas irregularmente e que não podem ficar dentro da lei devem ser desligadas e desinstaladas imediatamente. “No caso de antenas em hospitais, é impossível haver regularização.”

 

OUTRO LADO

Mesmo com riscos à população, a fiscalização por parte de órgãos das três esferas é falha, abrindo caminho para que as telefônicas descumpram a lei sem se preocupar com a punição.

No plano municipal, a Secretaria de Habitação é responsável por conceder a licença para a colocação de um novo equipamento. Para a PGM, muitas vezes as telefônicas realizam as instalações antes de pedir os documentos necessários.

Após a instalação –regular ou não–, o monitoramento fica a cargo de Anatel, Secretaria de Saúde estadual e Secretaria do Verde e do Meio Ambiente municipal. Porém, sem uma ação integrada por parte dos órgãos, poucas multas são aplicadas e cria-se um jogo de empurra.

Para a secretaria estadual, as ações estão “centradas atualmente nos órgãos municipais”. A secretaria municipal, por sua vez, diz que “não há parceria estabelecida” porque existem “pontos divergentes entre as leis, o que inviabiliza a aplicação conjunta de multas”.

A Anatel vai além. “Até hoje não foi encontrada em São Paulo nenhuma ERB [estação rádio-base, termo técnico para ‘antena’] irregular.” Segundo a agência reguladora, a fiscalização é feita principalmente por meio de pedidos do poder judiciário ou dos próprios cidadãos.

Além disso, acrescenta, áreas com grande concentração de equipamentos, como a avenida Paulista, são fiscalizadas “pelo menos uma vez por ano”.

Blogs da Folha

Mais acessadas

Nada encontrado
Publicidade
Publicidade
Publicidade