Ontem, começou a propaganda eleitoral dos candidatos a vereador na TV. Depois do sucesso na eleição para deputado federal, abriram o portão da Escola Tiririca para a hora da merenda, como informa hoje a Folha.
Mas de resto a coisa é brutal mesmo: com 1.200 candidatos (você leu o blog Folha SP Dados?), por mais sério que um candidato eventualmente seja, ele mal e mal terá tempo pra dizer seu nome, número e duas ou três palavras-chave: “Fulano de Tal, 9999, saúde, educação e segurança”.
A imprensa, Folha incluída, cobre pouco a corrida para vereador justamente pela dificuldade de cobrir tanta gente. Numa disputa que depende fundamentalmente do horário eleitoral e da presença na rua, sem cobertura jornalística, não tem como os folclóricos não se destacarem.
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Como você pode fazer para definir se vale a pena prestar atenção em algum? No horário eleitoral é que não será. Decidir com base em correntes (“vote nulo para ter nova eleição”, “não reeleja ninguém” etc) é roubada, e eu já expliquei por quê. Escolher apenas por ser celebridade ou pelo slogan não é algo muito inteligente. Celebridades podem eventualmente ter boas ideias, mas apenas o fato de serem famosos não é razoável.
Resta pesquisar. Como há um mês e pouco pela frente, dá tempo para identificar e fuçar a vida de uma boa meia dúzia de candidatos antes de decidir o voto. Se você estiver disposto a tentar votar bem informado, preparei algumas dicas de pesquisa para você:
1) Quando os candidatos fazem campanha na rua ou na TV, é comum darem o endereço do seu site de campanha. Anote. Visite. Idealmente, no site você deve conseguir saber mais sobre o que o cidadão pensa. Há algumas semanas, a repórter Nancy Dutra convidou especialistas para avaliar os sites dos candidatos a prefeito (acesse aqui). O infográfico mostra os critérios de um bom site de campanha. Eles valem para vereador também.
2) Verifique se as ideias do candidato são de fato atribuições de um vereador. De nada adianta o vereador ter ideias ótimas sobre segurança pública, por exemplo, porque isso é atribuição estadual. Não adianta o vereador concordar com você sobre política de cotas nas universidades, porque não existe universidade municipal. E cuidado com propostas mirabolantes. Se ele prometer que vai acabar com (fill the blanks) na cidade, duvide. Um vereador sozinho não acaba com nada.
3) O candidato que você achou interessante tem mandato atualmente? Legal: você pode consultar informações públicas para saber como ele anda dirigindo.
Se ele hoje é vereador, visite o site da câmara municipal de sua cidade e procure ler sua lista de projetos apresentados, suas presenças e como ele votou em questões que foram a plenário e às comissões no último mandato. Entre no portal da transparência da câmara – cidades de médias a grandes são obrigadas a ter – e tente descobrir como e com quê o representante gasta dinheiro do mandato.
(Os links que coloquei aqui são da Câmara Municipal de São Paulo – que tem uma arquitetura da informação bem sofrível -, mas boa parte das câmaras publica isso.)
4) Se você mora numa capital, visite o projeto Excelências, da Transparência Brasil. Eles reúnem dados públicos disponíveis sobre cada parlamentar em exercício no país: quem bancou suas campanhas (do TSE), que processos o cidadão responde (dos tribunais), como apareceu no noticiário sobre corrupção (dos principais jornais), que patrimônio possui (do TSE) e outras informações, que dependem do tipo de dado que a câmara municipal torna público.
5) Os dados do Excelências têm a limitação de só tratarem dos que já têm mandato. Por isso, visite o DivulgaCand, da Justiça Eleitoral, que tem os dados mais atualizados do registro eleitoral de todos os candidatos.
6) Faça contato. Mande um e-mail perguntando o que o candidato pensa sobre temas que você acha importantes. Se ele ou seus assessores responderem enrolando ou só repetirem slogans, desconfie.
Isso dá trabalho? Lógico que dá. E nada disso garante que você não vá ter surpresas desagradáveis depois. Mas pesquisar antes de votar reduz um pouco a chance disso.