Este post é o terceiro da série “Olho no Censo”, que verifica curiosidades disponíveis na riqueza de dados dos Resultados Gerais da Amostra.
No último final de semana, a revista Sãopaulo publicou uma reportagem do Alexandre Aragão e da Patrícia Britto (com fotos do grande Lucas Lima, também autor da foto do meu perfil) sobre os 30 anos da Rodoviária do Tietê. O local já foi o principal ponto de chegadas e partidas de migrantes a São Paulo. Foi lá que eu desembarquei quando vim pela primeira vez, em 1999, para fazer o teste para ser trainee da Folha.
VEJA OS DADOS
Planilha com dados nacionais (Google Docs)
Todas as tabelas da amostra do Censo (IBGE)LEIA MAIS
“Tietê trintão” (assinantes)
“Tordesilhas no século 21” (no blog)
Hoje, a rodoviária anda bem mais vazia, em parte pela concorrência com passagens de avião por vezes mais baratas do que as de ônibus. Em parte, também, isso ocorre pelo fato de São Paulo receber menos migrantes do que antes. Quando eu cheguei a São Paulo, quase um em cada 4 moradores do Estado havia nascido fora. Hoje, somos pouco mais de um a cada 5.
O Brasil está ficando mais local, segundo os dados da amostra do Censo. Em 1991, 15,36% dos brasileiros moravam fora do Estado onde nasceram. Em 2010, eram 14,54%.
Observando os Estados que mais reduziram seu percentual de “estrangeiros”, a impressão que dá é que os desbravadores de novas fronteiras dentro do Brasil deram à luz uma geração de filhos locais.
Brasília, que costumava ser uma cidade de migrantes, tem cada vez mais habitantes nascidos e criados lá – ainda que de pais que nasceram fora. Em 1991, 58% dos moradores de Brasília eram de fora. Hoje, são 46,23%. Os brasileiros pararam de ir para Brasília? Duvido – estão aí os concursos públicos e os cargos comissionados no Congresso que não me deixam acreditar nisso. Mas quem foi pra lá e ficou teve filhos brasilienses.
Esse fenômeno também é forte em Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – Estados da fronteira agrícola, colonizados durante os anos 70 e 80 do lado de lá de Tordesilhas. Em Estados que tradicionalmente atraíam migrantes em busca de oportunidades econômicas, como Rio de Janeiro e São Paulo, a motivação pode ser ligada à economia mesmo.
1991 | 2000 | 2010 | variação em pontos percentuais 1991-2010 | |
RO | 62,71% | 52,70% | 43,66% | -19,06 |
DF | 58,64% | 53,35% | 46,23% | -12,41 |
MT | 45,90% | 42,62% | 37,92% | -7,98 |
MS | 32,27% | 28,34% | 25,99% | -6,28 |
RJ | 19,15% | 18,15% | 14,48% | -4,67 |
PR | 21,44% | 19,31% | 17,04% | -4,41 |
RR | 41,74% | 47,16% | 38,51% | -3,24 |
PA | 18,42% | 16,99% | 15,21% | -3,22 |
SP | 23,88% | 24,77% | 20,69% | -3,19 |
MA | 9,40% | 8,15% | 7,71% | -1,69 |
Brasil | 15,36% | 15,76% | 14,54% | -0,82 |
AC | 11,50% | 11,64% | 10,72% | -0,77 |
TO | 31,94% | 32,46% | 31,57% | -0,36 |
PE | 6,76% | 6,82% | 6,74% | -0,02 |
OLHO NO CENSO:
Bem casado é quem bem vive (28.abr)
No trabalho, menos crianças e mais velhos (1.mar)
Tá em casa (4.mar)